Notas sintéticas das Jornadas Pastorais do Episcopado

Notas sintéticas das Jornadas Pastorais do Episcopado

Fátima, Junho de 2010

“Repensar juntos a pastoral da Igreja em Portugal: Interpelações sócio-culturais

 

1. A identidade cristã, na sua novidade e diferença, é hoje posta à prova e chamada a manifestar-se em condições novas, difíceis e fatigantes. Humanamente temos a sensação de sermos uma Igreja frágil numa sociedade também ela frágil. A Igreja encontra-se muitas vezes mergulhada nas mesmas incertezas que caracterizam toda a nossa sociedade. Não pode conceber e exercer a sua missão fora deste contexto geral. É chamada a permanecer com a sua identidade específica no meio das fracturas da sociedade. É precisamente nesta situação que somos interpelados a viver a experiência do “paradoxo cristão”: o poder de Deus actua na Igreja, como actuou na vida dos apóstolos, dentro e através da sua fragilidade “Basta-te a minha graça, porque a minha força manifesta-se na fraqueza” (2Cor 12,9).

2. Da expressão das inquietações e interpelações à necessidade de um discernimento espiritual: inspirado e guiado pelo Espírito Santo e não meramente sociológico, que nos permita ver o que Jesus Cristo espera de nós através destas inquietações e provações. Como compreender e avaliar as resistências da cultura ambiente à Tradição cristã? O que fazer para fazer face a um crescimento da indiferença em relação à fé e do desafecto em relação à Igreja?

3. Enfrentar as provas da missão a partir da fé e da sua dinâmica interna, da identidade cristã e da novidade da Graça em vez de procurar e denunciar obstáculos externos aos quais responder com critérios e estratégias pontuais de defesa ou contra-ataque.

4. Campos de prova mais urgentes em ordem à missão:

4.1. Campo da transmissão da fé na sociedade secularizada, a pedir: uma atenção aos “preambula fidei”, às janelas abertas para a fé desde o pedido de baptismo para o filho, a possibilidade dos pais despertarem para a fé através da catequese dos filhos até ao dialogo cultural; uma revisão da iniciação e da formação cristãs que levem a uma verdadeira experiência de encontro com Cristo; uma resposta à sede e à necessidade de espiritualidade, que por sua vez alimenta a comunhão e a missão da Igreja.

4.2. Campo da presença da Igreja na sociedade a pedir atenção ao acolhimento, à cultura enquanto ethos de um povo e expressão do desenvolvimento da pessoa nas diversas vertentes e à caridade de proximidade aos mais frágeis e vulneráveis.

4.3. Campo das realidades antropológicas a exigir uma “gramática elementar da existência cristã”, com as questões sobre a vida, o amor humano, o sofrimento, a morte, a confiança e a esperança, o sentido da vida.

4.4. Campo da comunidade cristã a requerer uma reconfiguração e reorganização da paróquia na base da comunhão e da co-responsabilidade dos vários carismas, serviços, ministérios e movimentos e na base da integração numa unidade mais vasta (por ex. na vigararia) através de um trabalho em rede.

5. Algumas atitudes espirituais a encorajar

5.1. Acolher a situação de secularismo e de indiferença como apelo ao discernimento, à formação (ir ao centro da fé) e ao testemunho cristão;

5.2. Praticar o diálogo ad intra e ad extra, a escuta, a proximidade, o estilo sinodal de caminhar juntos, recolher as intuições pastorais que surjam;

5.3. Cultivar um estilo de vida cristão que possa ser interpelador (a santidade de vida no mundo);

5.4. Dar um lugar particular à espiritualidade e à oração, concretamente à “espiritualidade do acontecimento” (expressão de D. José Policarpo);

5.5. Manifestar a visibilidade sacramental da Igreja. A visibilidade específica da Igreja é de carácter sacramental e não de espectáculo mediático. Requer pois que tudo o que a Igreja faz se torne acontecimento envolvente e deixe transparecer o que a anima na sua profundidade;

5.6. Formar comunidades fraternas e missionárias onde se viva a comunhão e o impulso apostólico;

5.7. Aprender a praticar a esperança cristã, com o elemento essencial que a caracteriza: a abertura ao invisível de Deus, à confiança no seu Amor que inspira a confiança na vida, na bondade da vida e motiva os compromissos firmes e permanentes no meio da cultura da precariedade.

“Concede-me, Senhor, eu Te peço, uma vontade que Te busque; uma sabedoria que Te encontre; uma vida que Te agrade; uma perseverança que Te espere com confiança e uma confiança de que no final possa possuir-Te” (S. Tomás de Aquino).

+ António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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