O acordar do coração
São muitas as famílias que precisam de ajuda.
1. A Igreja em Portugal celebra todos os anos, no terceiro domingo da Quaresma, o Dia Cáritas. Esta iniciativa procura acordar o coração das pessoas para a sua responsabilidade pelo bem de todos e pela atenção a dar a cada um.
Iniciativas como estas são hoje mais necessárias. A Quaresma ensina-nos, por isso, a quebrar a rotina a que a vida nos foi habituando e a vencer a tentação da insensibilidade, da distração e da indiferença diante de tanto sofrimento humano.
Prestemos atenção aos nossos irmãos, como nos lembrava o Santo Padre na sua mensagem da Quaresma. Façamos deste dia Cáritas e de toda a Quaresma, tempo de fraternidade e de esperança, como anunciava a Mensagem que dirigi à Diocese.
2. São muitas as instituições da Igreja, os movimentos apostólicos, os serviços das comunidades e as pessoas que, inspiradas no Evangelho, se dedicam com acrescida atenção, neste tempo quaresmal, a acordar o coração de crentes e não crentes para irem em auxílio dos que mais precisam.
Todos conhecemos muito do bem que, dia a dia, se realiza na nossa Cidade e na nossa Diocese. Muito deste bem realizado é feito no silêncio do coração humano que só o coração de Deus conhece. Esta é, por isso também, a hora de sabermos todos em Portugal reconhecer o bem que se faz.
Neste tempo de fraternidade e de esperança, devemos saber que o coração dos cristãos se abre com a chave da caridade e que esta chave está ao alcance dos frágeis, dos pobres, dos idosos que vivem sós e dos que sofrem momentos dolorosos de provações incontidas. Queremos que a usem sem medo. Ela pertence-lhes.
3. A situação social que vivemos fez aumentar, inesperada e abruptamente, as necessidades humanas e as dores familiares. O desemprego, a crescer sem fim à vista, a pobreza, a atingir mais pessoas e a percorrer caminhos inesperados, a fragilidade psicológica, a afetar pessoas, famílias e grupos sociais, de forma dolorosa, trazem ao coração das nossas instituições novas inquietações e maiores urgências, a dizer-nos que há nas nossas terras mesas de família sem pão, doentes sem dinheiro para medicamentos e tanta gente sem horizontes de esperança.
Estamos a viver um tempo que nos revela que todos juntos, por mais que sejamos, somos ainda poucos para fazer face a tantos imperativos emergentes a exigir ajuda imediata e respostas solidárias. No último mês de janeiro as ajudas dadas pela Cáritas de Aveiro duplicou em relação ao mesmo mês do ano passado.
À Cáritas Portuguesa, à Cáritas Diocesana e aos Grupos Cáritas paroquiais, num esforço de maior atenção e mais proximidade, compete, por inerência da sua missão, estarem atentos a estas novas formas de pobreza. Pertence à Cáritas por mandato da Conferência Episcopal Portuguesa coordenar as respostas dadas através do Fundo Solidário Social.
São muitas as famílias que precisam de ajuda. A nossa Cáritas Diocesana, os Grupos Paroquiais e tantas instituições diocesanas e paroquiais e movimentos sociocaritativos precisam de ajuda e de generosidade para poderem ajudar. O Dia Cáritas tem esse sentido de apelo à generosidade e à partilha. Sabemos todos quanto os cristãos são generosos e por isso acreditamos que este Dia Cáritas será um renovado acordar do coração daqueles que sabem que também desta forma se cumpre o nosso lema diocesano: «amar a Deus é servir».
D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro