Comunicado da Rede Fé e Justiça África-Europa No dia 13 vai-se votar para o Parlamento Europeu. Está-se em plena campanha. Os nossos políticos falam, argumentam e por vezes até insultam, tocando nos problemas que preocupam a maioria dos portugueses, mas fica-se com a impressão que serão “mais outras eleições” provavelmente com uma abstenção maior e não só por causa do “Rock in Lisboa” e do “Euro 2004”. Os debates parecem em tudo idênticos ao das legislativas para a Assembleia da República. A referência à Europa que transparece na campanha é sobretudo a de se defender os interesses de Portugal e obter da UE o mais que se puder. O contexto destas eleições mereceria muita atenção não só dos políticos mas também da nossa parte. A União Europeia é, senão o primeiro, ao menos o segundo responsável pelos acontecimentos bons e maus que afectam o mundo em que vivemos. E nem a Europa, nem o mundo, nem Portugal, nem nós, teremos melhor futuro se no Parlamento Europeu não se sentarem pessoas que pensem em grande, que tenham visão, princípios e estabeleçam prioridades. Porque o futuro do mundo passa em grande parte pelas decisões que lá são tomadas. Actualmente o Parlamento Europeu é o maior centro, senão de decisão, ao menos de influência do mundo. Cabe-nos por isso escolher parlamentares corajosos, sensíveis e com visão e soluções para os problemas que colocam em causa o futuro e a sobrevivência da humanidade e que não estejam só preocupados com o bem estar e os privilégios dos mesmos de sempre, os nossos, os dos ricos. De entre tantos temas, quero destacar um que para nós missionários se reveste de muita importância: as relações Europa/Sul do mundo, porque cada vez é mais evidente que as causas da desordem mundial estão na situação de injustiça entre as várias áreas e regiões do mundo. O papel da Europa é fundamental no melhoramento destas relações. Em vários países da Europa foi feito um apelo por parte de movimentos cristãos e missionários, aos candidatos ao Parlamento Europeu, para que assumam como prioridade do seu programa eleitoral a redução dos desequilíbrios entre o Norte e o Sul. Eis alguns dos pontos: 1. A Constituição Europeia preveja explicitamente através de intervenções concretas de política económica, comercial e monetária a redução do desequilíbrio entre o Norte e o Sul do mundo, modificando as normas que regem as importações do Sul e os direitos de propriedade intelectual. 2. Que accione mecanismos para uma reforma democrática da ONU e dos seus organismos, do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. 3. Que nos próximos 5 anos em todos os países da UE se chegue ao 0,7% do PIB destinado à cooperação e desenvolvimento dos países menos desenvolvidos. 4. Que a UE cancele a dívida externa dos países pobres do sul do mundo. 5. Que a UE seja mediadora e pacificadora dos conflitos actuais e de modo particular o da Palestina e dos Grandes Lagos, através de soluções concretas não violentas. 6. Que a UE apoie a instituição de corpos civis de paz. Todos sabemos que qualquer candidato português ao Parlamento Europeu que tivesse a ousadia de colocar estes pontos como prioritários na sua agenda de campanha eleitoral, nunca chegaria a sentar-se no Parlamento. Mas acredito que haverá quem lhes dê importância mesmo sem publicamente o apregoar. Vou tentar descobrir quais são os candidatos mais sensíveis a esta realidade e é neles que vou votar. Porque me preocupa o futuro dos povos do sul e também do norte, e porque ou haverá futuro para todos, ou não haverá para ninguém. P. Fernando Rocha