Nomeações de bispos: «Este processo que temos não está a funcionar» – Presidente da CEP

D. José Ornelas afirma que «não é aceitável» ter dioceses há mais de um ano sem bispo e que o Sínodo vai indicar alterações no Direito Canónico em «questões novas»

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 30 abr 2023 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou que o processo de nomeação de bispos “não está a funcionar” e considerou “inaceitável” ter dioceses sem bispo há mais de um ano, sugerindo que o Sínodo vai alterar normas atuais.

“Nós termos neste momento duas dioceses que já há um ano e tal estão sem bispo, uma já quase há um ano e meio, isto não é aceitável a meu ver”, afirmou D. José Ornelas, acrescentando que não tem elementos para afirmar se o atraso na nomeação decorre da “recusa” por parte de quem é escolhido.

Em entrevista conjunta à Agência Ecclesia e à Agência Lusa, após ter sido reeleito presidente da CEP para o triénio 2023-2026, o bispo de Leiria-Fátima sustentou que é necessário “rever” processo de nomeação dos bispos “para agilizá-lo e para o tornar mais participativo”.

D. José Ornelas considera o papel do Papa na nomeação dos bispos de todo o mundo “muito importante”, assim como a participação alargada “em termos de consulta de pessoas”, nomeadamente “leigos, padres, bispos”, mas defende uma organização “de outra forma, agilizando melhor, tornando mais rápido e eficiente o processo de escolha”.

O presidente da CEP valorizou o “caminho de sinodalidade” que está a acontecer “em toda a Igreja”, lembrando que há “questões novas” que “precisam ser repensadas e ajustadas”.

“Hoje temos questões novas que o Papa Francisco diz ‘não busquem simplesmente soluções do passado para os problemas de hoje’, não vai dar certo”.

A respeito de casais em segunda união ou uniões homossexuais, o presidente da CEP sublinhou que a Igreja não pode “simplesmente ignorar” a situação de “grande parte dos casais” que “acabam em separação” e disse que, no seguimento dos “caminhos que o próprio Papa Francisco foi abrindo sobre as questões de matrimónio”, é preciso ajudar as pessoas “a fazer um caminho de verdade e discernimento sobre a sua própria vida”, lembrando que “Jesus nunca recusou ninguém”.

Foto Diocese do Porto/JLC

“A Igreja não é só gente perfeita! É de gente que, às vezes, vive situações onde uma solução normal não chega!”, referiu.

D. José Ornelas referiu-se também a temas que “estão em franca discussão”, nomeadamente a ordenação de padres casados, lembrando que “é uma questão disciplinar, não é dogmática, que deve ser discutida, aceite e implementada pela Igreja no seu todo e não simplesmente porque cada um”.

O bispo de Leiria-Fátima considera que, pessoalmente, o sacerdócio das mulheres “é um tema que está em cima da mesa”, mas “não se põe ao mesmo nível dos outros” por razões “culturais”, sendo necessário não olhar apenas para a Igreja na Europa, mas “para a Igreja que está em todo o mundo, em diferentes culturas”.

“Não é simplesmente uma questão de moda, mas de ir ao encontro de uma sociedade que mudou e de uma cultura que está a mudar e encontrar a linguagem e caminhos novos para ir ao encontro dessa cultura. Foi sempre assim na Igreja”.

Questionado sobre a abordagem destes e de outros temas na síntese nacional do Sínodo, enviada para Roma em agosto de 2022, D. José Ornelas lembra que as mudanças suscitam “opiniões diversas” e que o “contraditório é muito importante”.

“Quando nós pensamos em Igreja, temos de aceitar esta discussão e depois temos de ter a coragem profética de dizer: agora é preciso ir para a frente!”

D. José Ornelas referiu-se a um “grupo de canonistas que está a seguir o Sínodo” para indicar “alterações que se devem fazer no próprio Direito” a partir das sugestões que vão sendo feitas e tornem possível o que já acontece só após ser pedido à Santa Sé.

“O Direito também tem de acompanhar isto, promover o que já está a acontecer e dar-lhe normas de direito de funcionamento”, afirmou.

Na entrevista conjunta à Agência Ecclesia e à Agência Lusa, D. José Ornelas referiu-se à sua reeleição para presidente da CEP e disse que chegou a pensar não aceitar um segundo mandato porque tem “uma diocese para cuidar e a diocese também se ressente se o bispo está muito tempo fora”.

O presidente da CEP diz que o último ano foi “desafiador e que exigiu tempo e muitos contactos”, considerando que “vale a pena”.

A respeito do trabalho da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas disse que é necessário um “secretariado mais organizado” e promover um “trabalho mais assertivo do ponto de vista comunicativo”, lembrando que “estão a dados passos nesse sentido, com a participação de leigos e de leigas competentes”, possível também no cargo de secretário da CEP.

PR

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Agência ECCLESIA

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