“No Ressuscitado está a raiz, a fonte duma vida nova para a Humanidade”

D. Maurílio, em entrevista D. Maurílio de Gouveia, em entrevista ao jornal “Tribuna da Madeira” fala sobre a ressurreição de Jesus Cristo, à luz do tempo histórico que vivemos marcado por divergências culturais. Para o Arcebispo de Évora “a Ressurreição de Cristo é, de facto, o centro da fé cristã, e um acontecimento decisivo para todos os homens. Ela marca o ponto culminante do mistério da Encarnação do Filho de Deus. Quando os seus conterrâneos lhe pediram um sinal que justificasse as obras que realizava e que eles consideravam incom- preensíveis e inquietantes, Jesus respondeu, profetizando a sua própria Ressurreição: “destruí este templo e, em três dias, reedificá-lo-ei”. Ressuscitar dos mortos, voltar à vida, após três dias no túmulo, é caso único na história, que confirma a natureza divina de Jesus de Nazaré. Ainda segundo a fé cristã, a Ressurreição não diz respeito apenas à Pessoa de Cristo, mas envolve todos os homens. No Ressuscitado está a raiz, a fonte duma vida nova para a Humanidade. Ele é o Salvador universal. O desenvolvimento rápido, diríamos explosivo, que conheceu a comunidade dos seus discípulos, isto é, da Igreja, deu-se a partir da experiência de fé em Jesus Ressuscitado. Foi esta fé que transformou as suas vidas, deu origem à multiplicação de comunidades cristãs por todo o império romano e contribuiu para mudar profundamente instituições e a própria sociedade, na medida em que esta foi inserindo em si os grandes valores do Evangelho. Foi isto que aconteceu ao longo dos últimos dois mil anos, sempre que as pessoas, as famílias, as comunidades se converteram a Jesus Ressuscitado, vivo e actuante através dos Seu Espírito. Assim se compreende que o papa João Paulo II tenha dirigido este apelo no início do seu pontificado: “Abri, de par em par, as portas a Cristo. E acrescentou: “Não tenhais medo: abri-vos ao Redentor, vós, povos, culturas, sistemas económicos e políticos”. A Ressurreição de Cristo continua a ser um sinal de esperança.” Questionado sobre o alheamento que o povo católico vai demonstrando em relação ao mistério da morte e a ressurreição de Cristo, D. Maurílio de Gouveia responde que “do ponto de vista litúrgico, trata-se da festa mais importante do ano. Foi sempre assim, desde os primórdios do cristianismo. Desde então, os cristãos habituaram-se a celebrar o Mistério da Pascal em dois ciclos: o ciclo anual, por Março/Abril, em correspondência com as datas da Morte e Ressurreição de Cristo; e o ciclo semanal, com a celebração do domingo. Podemos dizer que se trata de uma Festa que, para além da sua posição litúrgica, ganhou raízes profundas na religiosidade popular. Só uma outra Festa atingiu esta dimensão popular: a Festa do Natal. O fenómeno da descristianização do mundo ocidental tem retirado alguma importância a diversas manifestações tradicionais da Semana Santa, embora muitas se mantenham. Mas não quero deixar de sublinhar que, a par deste facto, estão a surgir aspectos novos e significativos da vivência pascal nas comunidades e em grupos e movimentos de cristãos mais esclarecidos: por exemplo o baptismo de jovens e adultos na vigília pascal, depois de alguns anos de catecumenado; e as via-sacras nas ruas, uma devoção que está a ganhar o interesse dos jovens. Lembremos a este respeito, a via-sacra do Coliseu de Roma na Sexta-feira Santa, à noite, a qual é presidida pelo Santo Padre. O alheamento das celebrações pascais por parte de alguns sectores de cristãos, deve-se fundamentalmente ao clima de individualismo, hedonismo e materialismo que afecta a sociedade actual.” D. Maurílio de Gouveia, na entrevista ao Tribuna da Madeira, recorda ainda o papa João Paulo, afirmando que “o primeiro ano da morte de João Paulo II veio, de novo, realçar a figura e a obra do grande Pontífice, como já tinha quando ele faleceu. João Paulo II foi certamente a figura que mais marcou o seu tempo, como tem sido respectivamente afirmado nos mais diversos sectores sociais, políticos e religiosos. Para além do vigoroso impulso que imprimiu à vida e à missão da Igreja, teve um papel preponderante na queda do regime soviético, na intransigente defesa da pessoa humana, na luta contra uma cultura sem valores, contra a injustiça, e no empenhamento, por vezes, heróico em favor da paz, da vida, da liberdade e da família. A sua acção pastoral foi gigantesca: mais de cem viagens apostólicas até aos confins da terra, encontros mundiais com a juventude, numerosas encíclicas e outros notáveis documentos. Mas não foi menos notável o seu empenhamento humano e de fé: um percurso humano raro, de uma infância e juventude sob a tirania nazista e comunista, de uma juventude, social e politicamente empenhada; de estudante, actor e professor universitário, de seminarista na clandestinidade, de sacerdote e bispo e, finalmente, de Sucessor de Pedro. Todos o consideravam uma personalidade de uma simpatia irradiante, de uma profunda atenção aos outros, de cada pessoa individualmente, e de total entrega à sua missão. Notável ainda, a forma heróica como enfrentou o atentado na Praça de S. Pedro, a doença e, finalmente, a dolorosa caminhada para a morte. Por ocasião do seu funeral, muitos jovens, na Praça de S. Pedro, gritavam: “Santo, já”. Penso que este grito diz tudo sobre a santidade e a grandeza humana do grande Papa. Ele deixou-nos, na verdade, uma valiosa herança que urge acolher e viver.” Ao finalizar, o Arcebispo de Évora afirma: “a todos desejo umas Páscoas Felizes. A melhor expressão que encontro para traduzir estes sentimentos é aquela que Jesus usou no dia da Ressurreição: “A paz esteja convosco”. Muita paz, alegria e felicidade”, concluiu.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top