No Natal corre-se os «meninos»

Tradições natalícias nos Açores Nos Açores, os preparativos para o Natal começam logo no principio do mês de Dezembro. Nas nove ilhas do arquipélago, a preparação da ceia e do presépio é uma das tradições mais importantes das terras açoreanas. Uma das especificidades natalícias da Ilha Terceira “é «correr os meninos»”. Os elementos dos vários grupos paroquiais “visitam-se reciprocamente entre o Natal e o Ano Novo” – disse à Agência ECCLESIA o Pe. Ricardo Henriques, do clero açoriano. Uma visita ao menino Jesus de cada casa que implica “um petisco” – referiu. Os cantares e os ranchos “são expressões sociais” também utilizadas entre o Natal e o Ano Novo. Durante estes dias “é típico cantar os anos bons”. O presépio, além de representar a gruta de Belém, serve também para representar cenas do quotidiano das ilhas. As figuras são feitas de barro, os montes são feitos de leiva de burrecas – nome que se dá ao musgo fofo e fresco, as ruas que circulam entre as casas são feitas com bagaço ou bagacina e, para a cobertura dos telhados utiliza-se o musgo seco. Na ilha de Santa Maria, é costume colocar-se à volta do Menino, pratinhos de trigo grelado a que se chama relvões. Na Ilha Graciosa há quem faça o Altar do Menino, pondo sobre uma mesa forrada de tecido branco, alguns degraus, também forrados e, no cimo, a imagem do Menino Jesus, com flores naturais e outro tipo de ofertas espalhadas pela casa. Montado o presépio segue-se a ceia. Era costume coincidir o mês de Dezembro com a matança do porco, porque com a falta de energia eléctrica, a carne tinha de ser salgada e conservada assim até ser consumida. Ao mesmo tempo, havia enchidos e carne fresca com abundância para a ceia de Natal. Nas Flores, para além dos enchidos, a tradição é servir galinha assada recheada com debulho, torresmos, não esquecendo os inhames com linguiça. A melhor parte continuam a ser as sobremesas, como o arroz doce e o bolo de frutas, na ilha das Flores, a massa sovada e os biscoitos de orelha e de aguardente, em Santa Maria, os suspiros, rosquilhas de aguardente e figos passados em São Jorge, e os licores caseiros – carinhosamente tratados por «mijinho do Menino – um pouco por todo o lado. Actualmente, a vivência natalícia é mais uniformizada. O prato do bacalhau tornou-se universal. O Pe. Octávio Medeiros, natural da Ilha de S. Miguel, recordou o Natal na sua infância e sublinhou que “antigamente não havia a comercialização dos afectos”. E adianta: “hoje o «menino» está longe” mas “no nosso tempo era mais Ele do que as coisas”. Ao nível de preparação para o Natal, o Pe. Octávio Medeiros realça que “colocávamos muito a tónica no espiritual e nem se falava em presentes”. E recorda: “se tivéssemos uma galinha era uma maravilha”. A noite do dia 24 acaba sempre com a tradicional Missa do Galo, à meia noite. Em São Jorge, o dia da Consoada era de especial importância para as raparigas porque, ao contrário do resto do ano, elas tinham liberdade para sair à noite, até à hora da missa. Segundo a crença popular, nessa noite nada de mau lhes podia acontecer, enquanto nos restantes dias, depois das Trindades – mais ou menos às seis da tarde, – já não podiam sair, havendo até um ditado que dizia : “Trindades batidas, meninas recolhidas”

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