Nigéria: Responsável de projetos da AIS denuncia que membros da Igreja são em muitos casos «o primeiro alvo» dos terroristas

Sequestro é uma das ameaças aos cristãos no país, que tem registado um aumento nos últimos tempos

Foto: Fundação AIS

“A Igreja e o seu pessoal sofrem o mesmo que o resto [do país] e, em muitos casos, são mesmo o primeiro alvo”, afirmou Kinga von Schierstaedt, em entrevista ao semanário católico espanhol Alfa & Omega, citado hoje pela AIS.

Uma das situações de violência aconteceu recentemente, entre os dias 23 e 26 de dezembro de 2023, quando militantes fulani lançaram um ataque no estado de Plateau, no centro da Nigéria, que atingiu 26 aldeias e causou a morte a aproximadamente 200 cristãos.

De acordo com a Fundação pontifícia, outro dos problemas que tem afetado a comunidade cristã no país, um fenómeno que tem vindo a ganhar uma dimensão preocupante nos últimos tempos”, é o sequestro de membros da Igreja.

“Embora os sequestros tenham aumentado extremamente em todo o país nos últimos sete anos, a maior concentração está no noroeste e no norte”, avança a responsável de projetos da AIS, que acrescenta que “os resgates que obtêm, alguns deles enormes, tornaram-se uma forma de negócio para gangues criminosos”.

Segundo Kinga von Schierstaedt, “esta é uma maneira fácil de e confortável de ganhar dinheiro”: “Nem sempre é fácil determinar a razão exata de um rapto, quer seja obra de islamitas ou de grupos armados por interesses políticos ou económicos”.

A Fundação AIS realizou um levantamento dos casos conhecidos, no final do ano passado, e concluiu que até ao dia 13 de novembro ascendia já a 23 o número total de padres, religiosas e seminaristas raptados ao longo de 2023; Um deles acabou por ser assassinado e os outros 22 foram libertados.

Segundo os dados, a AIS constata que “esta é, de facto, uma das maiores ameaças à segurança do clero e dos religiosos neste país africano”.

Poderemos ficar tentados a dizer que a maioria dos casos no Norte – onde os cristãos são perseguidos são de motivação religiosa, enquanto na cintura central [Middle Belt], com os seus conflitos tribais, as causas são mais políticas ou culturais e, no Sul, puramente criminosas. Mas seria demasiado fácil e não refletiria a realidade. Há relatos de ligações entre criminosos armados e grupos terroristas islâmicos por razões económicas”.

Sobre as razões da violência, a entrevistada explica que os parceiros no terreno adiantam que “a realidade dramática é o resultado de muitos fatores diferentes”: “económicos, como a inflação elevada; ambiental, levando ao confronto entre pastores e agricultores, e políticos, com a alta tensão antes das eleições presidenciais do ano passado”.

“Isto conduz a um elevado grau de frustração entre os civis, alguns deles sem formação, o que, juntamente com condições de vida muito precárias, facilita o recrutamento de pessoas por terroristas e grupos criminosos”, indica.

A responsável de projetos da Fundação AIS refere que “outra razão frequentemente citada é o fracasso do Governo em resolver esta situação”.

“Segundo algumas fontes cristãs, isso deve-se principalmente à corrupção e à falta de vontade ou apatia dos políticos para acabar com o conflito”, destaca, referindo que as pessoas “não confiam nas autoridades políticas nem acreditam que delas se possa esperar qualquer melhoria”.

A AIS alerta para o facto de os padres e as religiosas na região serem muitas vezes “as únicas pessoas que, no terreno, conseguem apoiar as populações vítimas dos ataques terroristas, populações que precisam de auxílio até ao nível psicológico”.

“Em muitos lugares do Norte não há psicólogos ou psicoterapeutas. Mas há milhares e milhares de pessoas profundamente feridas e traumatizadas e é a Igreja, os padres e as irmãs, que devem intervir e tentar curar as suas feridas. E quem está mais bem preparado do que eles? Eles sabem combinar espiritualidade e fé profunda com psicologia e compreensão de como funciona a alma humana. Isso abre a porta para a cura”, defende a responsável de projetos da Fundação AIS.

Kinga von Schierstaedt informa que, em 2023, a AIS financiou, em média, à Igreja da Nigéria, “entre 120 e 145 projetos”, que ascendem a “mais de dois milhões de euros”.

“Em 2022, o maior montante foi destinado a projetos de construção, tanto de reconstrução como de novas construções, porque a fé está a crescer […]. A AIS contribuiu para a formação de seminaristas, noviças e também leigos. Estamos tremendamente gratos a tantos doadores em todo o mundo que tornam isto possível”, salientou.

LJ/OC

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