Nigéria: «Esta é, de longe, a pior atrocidade a que assistimos», relata pároco de cidade alvo de massacre por militantes jihadistas

Padre Ukuma Jonathan Angbianbee descreve momentos do ataque que vitimou mortalmente mais de 200 cristãos no país africano

Foto: Diocese de Makurdi

Lisboa, 17 jun 2025 (Ecclesia) – O padre Ukuma Jonathan Angbianbee, pároco de Yelewata, na Nigéria, relatou à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) os contornos do ataque “terrível” que aquela região sofreu na passada sexta-feira, resultando na morte de mais de 200 cristãos.

“Esta é, de longe, a pior atrocidade a que assistimos. Nunca houve nada de semelhante”, contou o sacerdote à fundação pontifícia.

Segundo informa a AIS, na noite de 13 de junho, militantes jihadistas levaram a cabo um massacre, que teve como principal alvo as famílias deslocadas, incendiando os edifícios onde dormiam e esfaqueando todos os que tentavam fugir, em Yelewata, na área governamental de Guma, perto de Makurdi.

“Quando ouvimos os tiros e vimos os militantes, entregámos as nossas vidas a Deus. Esta manhã, dou graças a Deus por estar vivo”, afirmou o padre Ukuma Jonathan horas depois do ataque.

O sacerdote fala que foi “verdadeiramente terrível” aquilo a que assistiu”, descrevendo que “as pessoas foram chacinadas” e “os cadáveres estavam espalhados por todo o lado”.

“Alguns [corpos estavam] queimados e irreconhecíveis – bebés, crianças, mães e pais simplesmente dizimados”, dá conta o relatório inicial da Fundação para a Justiça, Desenvolvimento e Paz da Diocese de Makurdi.

De acordo com a AIS, a cidade de Yelewata, situada na estrada principal para Abuja, tinha acolhido milhares de deslocados internos oriundos das aldeias vizinhas, e era considerada como relativamente segura, mas agora ficou quase deserta, com muitos a refugiarem-se nas povoações vizinhas de Daudu e Abagena.

O padre Jonathan refere que os atacantes eram militantes Fulanis e que o ataque foi cuidadosamente coordenado, tendo os atacantes acedido à cidade através de vários ângulos e aproveitado as chuvas fortes que se faziam sentir para prepararem o assalto.

“Não há dúvidas quanto à autoria do ataque. Foram sem dúvida Fulanis. Estavam a gritar ‘Alahu Akhbar’”, salienta.

O sacerdote e outros membros do clero da Diocese de Makurdi criticaram também a resposta das autoridades, uma vez que os agentes da polícia que conseguiram impedir os militantes de acederem à igreja estavam mal equipados e não foram capazes de impedir o ataque ao mercado vizinho.

“Na manhã seguinte ao ataque, havia muita polícia e outros elementos de segurança [nas ruas], mas onde estiveram eles na noite anterior, quando precisámos?”, questiona.

As autoridades avançam, nomeadamente a Agência Nacional de Socorro da Nigéria, que em consequência do ataque de sexta-feira, “o número de pessoas deslocadas ascendia a 1.069 famílias, ou seja, 6.527 pessoas”.

Entre esses deslocados, “mais de 3 mil, incluindo muitas mulheres e crianças, precisam urgentemente de alimentos, água potável e suprimentos médicos essenciais”.

O Papa Leão XIV condenou, no último domingo, o “terrível massacre”, assegurando que reza para que “a segurança, a justiça e a paz prevaleçam na Nigéria”.

A AIS contextualiza que o Estado de Benue, especialmente a região de Makurdi, tem assistido ao agravamento de atos de violência desde há vários meses, essencialmente entre criadores de gado muçulmanos, os fulani, e agricultores sedentários, principalmente cristãos.

Em causa está o controlo das terras e de outros recursos.

Face à situação, os líderes da Igreja têm apelado repetidamente à ajuda internacional, afirmando que está em curso um plano de militantes jihadistas para se apoderarem de terras e limparem etnicamente a região da presença cristã.

LJ/OC

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