Nigéria: Diocese de Enugu crismou «quase mil cristãos» no mesmo dia, apesar da perseguição religiosa

Fundação pontifícia AIS recorda que nove dias depois foram mortos «cerca de duas centenas de cristãos», num estado vizinho

Foto: AIS

Lisboa, 08 jul 2025 (Ecclesia) – A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) destaca que “quase mil adolescentes e adultos” receberam o sacramento da confirmação na Diocese de Enugu, “poucos dias antes” de um massacre de “cerca de duas centenas de cristãos” no vizinho Estado de Benue.

“A festa do crisma mostrou como a comunidade cristã está pujante neste país de África apesar da enorme perseguição que se faz sentir, nomeadamente pela atuação do grupo terrorista Boko Haram, que deseja a instauração de um ‘califado’ no norte da Nigéria, e pelos pastores nómadas fulani, cada vez mais radicalizados”, explicou a fundação pontifícia, numa nota enviada hoje, 8 de julho, à Agência ECCLESIA.

O secretariado português da AIS assinala que a Nigéria assistiu a “dois acontecimentos significativos de sinal contraditório”, que mostram a “coragem e resiliência” da comunidade cristã nesse país de África.

Na catedral do Espírito Santo, o bispo de Enugu referiu-se ao grande número de crismados, sinal de que “Deus está a trabalhar na diocese”, e que o “Espírito Santo é o maior consolador”.

“Ele tira-nos o coração de pedra e dá-nos um espírito novo, transformando-nos em novas criaturas. Mesmo que não o vejamos, sentimos o seu impacto. Como o vento e o fogo, o Espírito purifica-nos, santifica-nos e fortalece-nos”, desenvolveu D. Ernest Obodo.

A Diocese de Enugu celebrou o sacramento do crisma de “praticamente mil pessoas, entre jovens, adolescentes e adultos”, a 4 de junho, presidido por D. Ernest Obodo, enquanto no estado vizinho de Benue, na região de Makurdi, aconteceu um dos episódios de “maior violência na história da Nigéria” contra a comunidade cristã, nove dias depois, a 13 de junho.

“Atacantes fortemente armados abriram fogo indiscriminadamente contra as pessoas que se encontravam na missão católica em Yelewata, perto de Makurdi, causando cerca de duas centenas de mortos”, recorda a AIS, sobre um “terrível massacre”, como classificou o Papa Leão XIV, que alertou para o cenário de “extrema crueldade”.

A Ajuda à Igreja que Sofre explica que no Estado de Benue, especialmente a região de Makurdi, tem sido “um dos palcos dessa violência contra a comunidade cristã”, e tem como protagonistas “os criadores de gado, que são muçulmanos e de etnia fulani, que têm atacado os agricultores sedentários, principalmente cristãos”.

“Em causa está o controlo das terras e de outros recursos naturais”, salientou a fundação pontifícia, que adianta que os líderes da Igreja têm “apelado repetidamente à ajuda internacional”, num alerta sobre um plano de militantes jihadistas para apoderarem-se de terras e “limparem etnicamente a região da presença cristã”.

A organização internacional recorda também a morte de, pelo menos, mais 40 pessoas em “ataques brutais contra comunidades rurais”, atribuída por fontes locais a pastores Fulani, em várias aldeias do mesmo Estado de Benue, entre 24 e 26 de maio.

O secretariado português da AIS explica que os conflitos entre os pastores nómadas fulani e as comunidades agrícolas sedentárias tem sido “um problema persistente na região central da Nigéria”, as causas incluem a “posse das terras e da água”, mas também “complexas tensões étnicas, políticas e religiosas”; os terroristas Fulani são “uma minoria entre os 12 a 16 milhões de pessoas” desta etnia da Nigéria.

CB/OC

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