Nenhum brilho deve custar o silêncio da dor…

Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal

O recente caso do jovem João Colaço, que esteve desaparecido e acabou sendo encontrado sem vida numa praia, trouxe à superfície uma realidade que, tantas vezes, preferimos ignorar: os desafios silenciosos enfrentados por muitos jovens.

Vivemos numa sociedade em que o sucesso é frequentemente medido por notas, conquistas desportivas, prémios académicos ou carreiras em ascensão. Mas, por detrás de percursos aparentemente brilhantes, escondem-se fragilidades que raramente encontram espaço para serem partilhadas.

A pressão para corresponder às expectativas – seja da família, da escola ou até da própria sociedade – cria um peso invisível que pode tornar-se insuportável.

Cresce a ideia de que mostrar vulnerabilidade é sinal de fraqueza, quando na verdade deveria ser visto como um gesto de coragem. Infelizmente, muitos jovens acabam por silenciar as suas dores para não desiludir, para não quebrar a imagem de perfeição que os outros projetam sobre eles.

Outro desafio é a ausência de apoio emocional efetivo. Apesar de vivermos numa era em que se fala mais de saúde mental, continua a faltar espaço seguro para que os jovens se expressem sem medo de julgamento. Professores, colegas, famílias e até as instituições ainda não estão suficientemente preparados para ouvir com empatia e agir com cuidado.

O que aconteceu com João Colaço e com outros jovens de que, infelizmente temos ouvido falar, deve servir de alerta: não podemos continuar a valorizar apenas os resultados visíveis e negligenciar o que se passa no íntimo de cada jovem.

É urgente criar uma cultura que normalize a partilha de fragilidades, que valorize o equilíbrio emocional tanto quanto se valoriza o sucesso académico ou profissional.

No fundo, reconhecer que por detrás de cada conquista há uma pessoa, com medos, dúvidas e inseguranças, é o primeiro passo para uma sociedade mais humana e justa. Porque nenhum brilho deve custar o silêncio da dor, fiquemos mais atentos. Perguntemos mais vezes se está mesmo tudo bem, prontifiquemo-nos para escutar e não apenas a ouvir, a reconhecer os sinais de alerta a estar presentes, mesmo na distância.

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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