Natal (também) a 7 de Janeiro

Católicos do rito bizantino evocam manifestação de Cristo ao mundo seguindo calendário diferente do ocidental

Lisboa, 06 Jan (Ecclesia) – Para muitos cristãos católicos e ortodoxos de rito bizantino, o nascimento de Jesus Cristo celebra-se esta Sexta-feira, 7 de Janeiro, de acordo com o calendário juliano, criado em 45 a.C. pelo imperador romano Júlio César.

Muitos imigrantes do Leste da Europa conservam essa tradição, como acontece com a ucraniana Olga Petriv Ferreira, residente em Portugal há nove anos.

Casada com um português, Olga diz que em sua casa se celebram dois natais: a 25 de Dezembro, de acordo com a tradição do rito latino, e a 7 de Janeiro, segundo o ritual bizantino.

“No dia 6, sentamo-nos para jantar quando surge a primeira estrela. Na mesa temos de ter 12 pratos, por causa dos 12 apóstolos de Jesus”, explica Olga ao programa da Igreja Católica na Antena 1, que vai ser emitido no próximo Domingo e que estará disponível na Internet a partir de 10 de Janeiro.

“Nas aldeias, antes do jantar, temos de dar um bocadinho de cada prato para todos os animais”, um hábito fundamentado na convicção de que eles, “especialmente os de casa, conseguem falar com Deus naquela noite”.

As diferenças entre os costumes portugueses e ucranianos atravessam a gastronomia e a espiritualidade: o bacalhau é substituído pelo trigo cozido com sementes de papoila, mel e nozes, e a liturgia do rito latino, que Olga diz ser “mais triste”, dá lugar a uma celebração cantada quase integralmente.

Para o padre Hugo Santos, capelão da Universidade Católica, há uma “mesma Igreja” não obstante os seus distintos esquemas litúrgicos.

“À medida que o Evangelho vai chegando aos povos, acaba por se traduzir na expressão com que as pessoas que vivem nessas culturas manifestam a sua fé. E a liturgia expressa essa diversidade. No entanto, o que une as Igrejas do Ocidente e do Oriente é a profissão da mesma fé”, sublinha o sacerdote, que mantém relações de amizade pessoal há mais de 10 anos com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu II.

Enquanto que a tradição ocidental “privilegia o nascimento”, a data escolhida pelos cristãos orientais acentua a epifania de Jesus, isto é, a sua manifestação aos povos, e também o seu baptismo, momento em que, segundo a Bíblia, Deus revelou que Cristo era seu filho, ao mesmo tempo que se tornava presente o Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade.

Os ritos da Igreja Católica no Ocidente herdaram a epifania, a “festa dos Magos”, popularmente conhecida como Dia de Reis, ao passo que os cristãos do Oriente passaram a assinalar o nascimento de Jesus, a 25 de Dezembro, embora sem a importância que lhe é atribuída pelo rito latino, também conhecido por romano.

Além de ser mais prolongada que o rito latino, a liturgia bizantina da missa introduz uma separação entre os padres e os restantes fiéis.

Em determinado momento da celebração, o clero entra numa área oculta, junto ao altar, separada dos restantes membros da assembleia pela iconóstase, divisória decorada por ícones, com o objectivo de salientar a distinção entre as realidades celestes e terrenas.

O rito bizantino é uma das liturgias da Igreja Católica, embora seja menos conhecida pelos fiéis do Ocidente.

O nome advém de Bizâncio, cidade localizada na actual Turquia, que, sob a denominação posterior de Constantinopla (hoje Istambul), tornou-se a capital do Império Romano do Oriente e pólo de expansão do cristianismo.

PRE/RM

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