Natal: Papa desafia católicos a convidar pessoas pobres e sós para a Consoada

Leão XIV alerta para compras compulsivas e pede sinais de esperança, em resposta a carta de um leitor da revista «Praça de São Pedro»

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 12 dez 2025 (Ecclesia) – Leão XIV apelou a um Natal vivido com “sobriedade”, pedindo aos católicos que evitem o consumismo e tenham a coragem de convidar pessoas pobres ou sós, para a Consoada.

“Que presente mais belo poderia haver do que abrir as nossas casas, durante as festas de Natal, para acolher a pobreza, todas as suas formas, incluindo a pobreza existencial e a pobreza educativa? Vamos convidar uma família pobre para o jantar de Natal, ou até mesmo uma pessoa que esteja a passar por uma situação difícil e que esteja sozinha”, escreve o Papa, na resposta a uma carta de um leitor, publicada na edição de dezembro da revista ‘Praça de São Pedro’, editada pelo padre Enzo Fortunato.

O texto, enviado hoje à Agência ECCLESIA, o pontífice sublinha a necessidade de “oferecer exemplos de bondade, esperança e liberdade. Vamos oferecer benefícios espirituais que possam prevenir o vício das compras”.

Leão XIV mostra-se crítico do consumismo “que corre o risco de se instalar durante as festas de fim de ano, quando as compras não são verdadeiramente orientadas para a busca da verdade e da beleza, mas meramente instrumentais para os nossos próprios desejos”.

Procuremos um sentido de autêntica beleza mesmo nas ofertas de presentes de Natal, um sentido que nos recorde o significado do nascimento de Jesus, inspirando-nos na sua pequenez, humildade e solidariedade”.

O Papa dirige-se a Antonio, um psicólogo de 40 anos de Salerno, Itália, que partilha as angústias de uma juventude marcada pelo “tumulto, medo e uma busca hiperbólica de reconhecimento”, num tempo onde “errar é um crime e fracassar é um fracasso total”.

Na sua resposta, Leão XIV aborda a importância do testemunho cristão e focou-se na vivência do Natal junto dos mais necessitados, citando a exortação apostólica ‘Dilexi Te’, a primeira do seu pontificado.

Agora, mais do que nunca, é necessário ouvir o clamor dos pobres, o clamor da terra. Agora, mais do que nunca, é nosso dever continuar a denunciar a ditadura de uma economia que mata”, insiste.

Na linha do seu antecessor, o Papa critica a fé nas “forças invisíveis do mercado”.

“A dignidade de cada pessoa humana deve ser respeitada agora, não amanhã, e o sofrimento de tantas pessoas a quem essa dignidade é negada deve ser uma constante recordação para a nossa consciência”, acrescenta.

Leão XIV reflete sobre o seu primeiro Natal como Papa, olhando em particular para as novas gerações, para convidar todos a trabalhar em favor da “paz, a fraternidade e a amizade, através do diálogo e do acompanhamento”.

“Os jovens precisam de encontrar Cristo, e isto só pode acontecer fortalecendo a simplicidade e a alegria de um testemunho cada vez mais autêntico, revelado na transmissão e facilitação do diálogo e da relação com a Encarnação do Amor maior que todo o amor. Isto acontece, antes de mais, pelo exemplo”, aponta.

Na carta, o pontífice apontou ainda o exemplo de São João Henrique Newman, recentemente proclamado doutor da Igreja, descrevendo-o como um mestre do diálogo capaz de ajudar a combater “as trevas do niilismo” e a construir uma “civilização da paz”.

Que nunca nos deixemos desanimar. Deus deseja o amor fraterno, a bondade, a liberdade e a paz. Aproveito esta oportunidade para apresentar os meus melhores votos de um Feliz Natal a toda a equipa da revista Praça de São Pedro e aos seus leitores.”

A capa desta edição é dedicada às crianças, na sequência do anúncio do segundo Dia Mundial da Criança, agendado para Roma, de 25 a 27 de setembro de 2026.

No editorial, o padre Enzo Fortunato sublinha que este dia deve ser um convite ao “cuidado como estilo pessoal e social”, lembrando que “as crianças unem onde os adultos partilham”.

A revista conta ainda com contributos do cardeal Mauro Gambetti, sobre os 400 anos da dedicação da Basílica de São Pedro, e do ministro-geral dos Franciscanos Conventuais, Carlos Trovarelli.

A 7 de dezembro, o Vaticano ofereceu uma ceia natalícia a cerca de 120 pessoas sem-abrigo, sob o Colunata de São Pedro.

“O objetivo foi reunir as pessoas que dormem na Via da Conciliação e em volta da Basílica de São Pedro que, por escolha, não querem deslocar-se e não aceitam a solução do dormitório”, relatou o cardeal Konrad Krajewski, esmoler pontifício.

OC

Partilhar:
Scroll to Top