As respostas do padre David Palatino, biblista, centradas no «grande mistério da encarnação»
Lisboa, 21 dez 2021 (Ecclesia) – O padre David Palatino, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), explica quem são as figuras principais do presépio e o que representam, a partir da Bíblia, dos Evangelistas Lucas e Mateus.
“Natal quer dizer nascimento e o presépio dirige-se fundamentalmente para este grande mistério da encarnação que apresenta o contexto específico do nascimento de Jesus”, começou por assinalar o sacerdote do Patriarcado de Lisboa, no programa ECCLESIA transmitido hoje na RTP2.
O professor da Faculdade de Teologia explica que os evangelhos falam do nascimento de Jesus em Belém, mas depois Lucas e Mateus têm “matizes diferentes”, consoante a “especificidade teológica de cada um”.
“Lucas coloca Jesus a nascer numa gruta, um curral, num estábulo, cujo sinal principal é a manjedoura; Mateus não é tão descritivo e pormenorizado nesta menção e apresenta os magos a visitar Jesus numa casa”, refere.
No centro do presépio está Jesus e o padre David Palatino destaca dois textos bíblicos que podem ajudar a iluminar aquilo que acontece no presépio de Belém: um de São Paulo, sobre “o esvaziamento, rebaixamento de Deus, que se faz frágil, abdicando da sua soberania divina”, e outro o prólogo de São João, que vai ser lido na noite de Natal – ‘o verbo fez-se carne e habitou entre nós’.
Sobre Maria, o sacerdote destaca que tem “um lugar central”, nomeadamente no evangelista São Lucas, apesar de no contexto do presépio “não esboçar nenhuma palavra”.
“É aquela que vai acolhendo a revelação que é dada por aqueles que visitam a Sagrada Família em Belém. No fundo é a confirmação daquilo que o anjo Gabriel já lhe havia dito acerca daquele menino que estava para nascer no momento da anunciação, acrescentou.
Já São José “é o homem do silêncio, é o homem que permanece de pé”, é o pensador, o filósofo, quem está a tentar compreender “tudo aquilo que está a passar”.
“É o homem que está atento a tudo aquilo que pode vir a constituir um obstáculo para a harmonia, para a paz, e para a serenidade daqueles a quem tem a missão de proteger, Jesus e Maria. É por isso que também neste contexto do presépio vemos a fuga para a Egito revelada em sonhos”, exemplificou.
Segundo o professor de Propedêutica Bíblica e Introdução à Bíblia, a Sagrada Família no contexto do presépio “é um agente passivo, é alguém que recebe”, alguém que procura sobretudo “contornar os obstáculos que vão surgindo” não havendo lugar na hospedaria.
“É aquela que no fundo mostra Jesus à humanidade, em primeiro lugar na figura dos pastores, segundo o evangelho de Lucas, mas também aos Magos, segundo o Evangelho de São Mateus”, explica.
O padre David Palatino recorda que o presépio como se entende hoje, na sua representação, nasce sobretudo com São Francisco de Assis que “representa pela primeira vez o presépio”.
“Essa representação e o alargamento das figuras é para mostrar que o Natal também acontece hoje e é o dar um cunho de contemporaneidade e intemporalidade do próprio presépio fazendo que ele próprio possa iluminar as realidades que vivemos hoje”, concluiu o sacerdote do Patriarcado de Lisboa.
PR/CB