Do sol à manjedoura, celebração do nascimento de Jesus afirmou-se desde o início do Cristianismo e nos vários contextos culturais
Varatojo, 24 dez 2020 (Ecclesia) – Frei Hermínio Araújo, guardião do Convento de Santo António do Varatojo, disse à Agência ECCLESIA que a representação do nascimento de Jesus, nas várias casas, ganha este ano uma centralidade nova em tempo de pandemia.
“O presépio toca a todos”, assinala o religioso.
Ao longo da história, os presépios ganharam uma dimensão doméstica, que se reveste de particular importância em 2020, face às limitações nas celebrações comunitárias.
“Se as pessoas, de uma forma muito simples, puderem ter momentos de vivência religiosa, espiritual, neste ano, isso é fundamental. E o presépio de São Francisco, que nos remete para o que estamos a celebrar, estar diante do presépio é também uma experiência muito significativa”, indica o religioso.
Frei Hermínio Araújo sublinha que os primeiros dados históricos relativos à festa do nascimento de Jesus Cristo remontam ao ano 336, em Roma, ligada a festa pagã pré-existente, iniciada por Aureliano, no ano de 274, a 25 de dezembro, por ocasião do solstício de Inverno, na qual se divinizava o sol.
“O sol é um elemento central na própria linguagem cristã, Jesus é a luz por excelência, por isso facilmente se identifica com este simbolismo, até aos dias de hoje”, assinala o guardião do Convento de Santo António do Varatojo, no Patriarcado de Lisboa.
A celebração ganha desenvolvimentos nos seus elementos sacramentais e espiritualidade com o pontificado de São Leão Magno (†461), que sublinha a ligação entre Criação, Redenção e o Natal.
Essa orientação teológica permanente, por exemplo, na oração de coleta do dia 25 de dezembro, que conclui os ritos introdutórios da Missa.
Senhor nosso Deus, que de modo admirável criastes o homem e de modo ainda mais admirável o renovastes, fazei que possamos participar na vida divina do vosso Filho que se dignou assumir a nossa natureza humana”.
As origens do presépio – palavra que deriva do latim, ‘praesepium’, que significa manjedoura – estão ligadas à localidade italiana de Greccio, cerca de 100 quilómetros a norte de Roma: este foi o local em que São Francisco de Assis fez a primeira representação do nascimento de Jesus, um presépio vivo, em 1223, na celebração da Missa do Galo.
“Um elemento essencial é o estábulo, o lugar onde os animais se alimentavam; por cima do estábulo, foi criado um espaço onde se pudesse celebrar a Missa”, destaca frei Hermínio Araújo.
O religioso observa que a intenção de São Francisco de Assis era envolver “todos os sentidos” na contemplação do nascimento de Jesus, congregando as pessoas.
“É um dinamismo de vida, rezar de olhos abertos como diz o cardeal Tolentino Mendonça”, acrescenta.
A proposta foi assimilada pelas várias culturas, ao longo dos séculos, no que o entrevistado define como um exercício de “inteligência espiritual”, do coração, colocando em cena as páginas do Evangelho.
O entrevistado na emissão de hoje no Programa ECCLESIA (RTP2, 15h30), assinala ainda o Ano especial dedicado a São José, pelo Papa Francisco, uma “figura central do cuidar”, com um “coração de pai”.
“São os seus gestos, as suas atitudes e, muito, o seu silêncio”, destaca frei Hermínio Araújo.
O religioso despede-se com votos de um “coração cheio de Natal”
“Este ano vamos celebrar menos o Natal por fora, com tantas manifestações exteriores, mas temos uma excelente oportunidade de o celebrar por dentro, simbolicamente, no coração”, declarou.
OC