Londres é considerada uma das cidades mais cosmopolitas da actualidade. Neste seu emaranhado de culturas, línguas, raças e religiões é possível encontrar de tudo e para todos os gostos.
Atrevo-me a dizer que qualquer religião, seita, filosofia de vida existentes à face da terra, ou mesmo falta de qualquer uma delas, tem uma “sucursal” nesta cidade. Foi este o universo que Bento XVI se propôs encontrar em Setembro passado. Não direi tanto que veio como pastor ao encontro do seu rebanho, mas sim que veio como cordeiro ao encontro dos lobos. Ao longo dos 4 dias da sua visita a este pais foram muito poucas as palavras realmente catequéticas, pelo contrário, foram muitas as palavras que dirigiu a uma sociedade bastante generalizada. Os encontros com a sociedade civil tão variada mostraram nele uma verdadeira figura de combate contra o que nas suas próprias palavras foi chamado de “formas agressivas de secularismo”.
O debate entre o que é temporal e o que é espiritual, o diálogo entre a fé e a razão foram uma constante. É, por isso, normal encontrar nos discursos de Bento XVI uma preocupação muito forte pela tolerância, mas ao mesmo tempo um alerta muito forte para que não se caia no extremo do vazio de Deus. Para muitos a tolerância é sinónimo de ausência de religião, ausência da manifestação pública do que é a fé de uns para não ferir ou interferir na vida de outros.
A essa mesma problemática se referiu o Papa no discurso feito no Parlamento de Londres quando diz: “Existem pessoas segundo as quais a voz da religião deveria ser silenciada ou, na melhor das hipóteses, relegada à esfera puramente particular. Outros ainda afirmam que a celebração pública de festividades como o Natal deveria ser desencorajada, segundo a questionável convicção de que ela poderia de alguma maneira ofender aqueles que pertencem a outras ou a nenhuma religião”. Alegar que a celebração pública do Natal pode ser causa de ofensa para aqueles que pertencem a credos ou filosofias de vida diferentes do cristianismo nada mais é do que uma tentativa feroz deste secularismo agressivo que pretende banir Deus da história do mundo moderno. Não direi que já o conseguiram, mas creio que muitos passos são dados para um esvaziamento do Natal do seu sentido profundo de um Deus feito Homem por amor gratuito ao homem sua criatura por excelência. As ruas desta cidade encontram-se carregadas de luzes e com montras renovadas há várias semanas. Deste panorama que se multiplica em tantas cidades por esse mundo surge uma inquietação: está o Natal banido? A resposta seria um “nim”, peço desculpa pelo termo. A verdade é que a resposta é âmbígua. Se por um lado vemos que a época não é esquecida pelas suas luzes, cores, etc, vemos, contudo que os temas dominantes das luzes e montras são luzes em forma de chapéus, de presentes, de laços, de pai natal, de renas. Onde está o natal nisto afinal? O que diferencia estas luzes daquelas que usamos nos arraiais dos bailaricos das nossas aldeias de província? Estou convicto de que ainda não se baniu a manifestação “outdoor” do Natal, porque, a nível económico, até os que eventualmente seriam ofendidos pela manifestação pública deste mistério divino são os que mais lucram com ele. Quantas lojas de chineses, indianos, muçulmanos não encontramos nós a vender artigos de Natal?
Termino esta reflexão com outras palavras de Bento XVI na mesma ocasião: “para os legisladores a religião não representa um problema a resolver, mas um factor que contribui de forma vital para o debate público na nação”, para o bem da nossa sociedade.
Pe. Pedro Rodrigues,
Missão Católica Portuguesa, Londres