O Natal assinala, para os cristãos, o Nascimento do “Deus entre nós”, mas a celebração religiosa ultrapassa a dimensão espiritual para potenciar relacionamentos familiares e gerar rotinas comerciais. A sua marca chega a crentes e não-crentes e, como se suspeita, deixa-os mesmo mais felizes do que no resto do ano. Roberto Carneiro, director do Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP/UCP), explica ao Programa ECCLESIA que os dias do Natal são “dias de felicidade”. Isso mesmo pode descobrir-se no estudo “What Makes a Merry Christmas?” (O que faz um Natal Feliz?), publicado no “Journal of Happiness Studies” (3, 313-329): 77% dos inquiridos admitem que, neste período, têm mais bem-estar pessoal e espiritual do que no resto do ano. Aqui se mostra que as três variáveis mais fundamentais para a felicidade no Natal são “a família, a religiosidade e a partilha”. Só em quarto lugar chegam os presentes e em quinto a comida e a bebida. Os indivíduos cujas experiências de Natal mais salientes são as actividades com a família e actividades religiosas, sentem-se mais satisfeitos e mais felizes com o Natal. Por outro lado, Os indivíduos cujas experiências de Natal mais salientes são as de compra e troca de presentes sentem-se globalmente pouco satisfeitos com o Natal e mais tristes. O Pe. António Rego, director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja (SNCS), lembra que a aprendizagem humana mostra que “é no dar que se recebe”. “As coisas são apenas coisas”, sublinha. A felicidade, por isso, não está ligada a bens materiais. “Dezenas de revistas científicas sobre os estudos da felicidade mostram que, apesar do aumento do poder de compra do mundo desenvolvido ter quintuplicado, as métricas da felicidade diminuíram”, assinala Roberto Carneiro. “É preciso aproveitar este tempo mágico para restaurar o diálogo nas famílias (…) e, em conjunto, reinventar os artefactos da felicidade”, acrescenta. Presépio O presépio é, segundo Roberto Carneiro, “o ícone mais transformador do mundo”, sobretudo no que diz respeito à mudança “interior” das pessoas. A esperança, num mundo de “misérias e conflitos”, chega todos os anos e os sinais do seu acolhimento na sociedade são bem visíveis. Para o Pe. Rego, o Natal pode ser “um tempo ecuménico” e, nesse sentido, o presépio surge como “expressão de ternura”, porque “não basta que as verdades sejam proclamadas teoricamente com grande pureza, é preciso que elas toquem a realidade da humanidade de hoje”. A dimensão fundamental é que Deus “incarnou, é pessoa”, trazendo uma relação pessoal com o divino. “Os ateus, os agnósticos, os que não gostam da Igreja de Jesus Cristo, têm esta realidade patrimonial que recebemos (o Natal, ndr). Há uma linguagem comum que se percebe, uma série de elementos que são do discurso natalício, preliminares para chegar à plenitude de Deus e que não devemos paganizar: a família, os amigos, a solidariedade, a partilha”, acrescenta. Para Roberto Carneiro, é fundamental “reeducar as novas gerações” para que procurem a felicidade “onde ela se deve procurar” e não “nos bens puramente materiais”. O “Menino” mostra, neste contexto, “elementos para a felicidade humana”, como destaca o Pe. António Rego. A estrela é, assim, um símbolo para que todos se deixem “guiar” por Jesus, onde “encontramos a resposta definitiva para as perguntas essenciais das nossas vidas”.