Natal: D. Nuno Brás destaca papel das Missas do Parto na construção da comunidade e identidade madeirense

Bispo do Funchal afirma que a fé foi o suporte para a dureza da vida no arquipélago e que a «Festa» é uma «experiência única, na região

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Funchal, Madeira, 19 dez 2025 (Ecclesia) – O bispo do Funchal afirmou que as tradicionais Missas do Parto, que marcam a preparação para o Natal na Madeira, são um momento essencial de construção de comunidade, onde a dimensão humana e a identidade cristã se fundem de forma “única”.

“Quando uma comunidade celebra o Natal e se vai preparando, guiada pela Virgem Maria, pela Senhora do Parto, isso constrói comunidade. Constrói comunidade humana, mas depois constrói também comunidade cristã”, referiu D. Nuno Brás em entrevista à Agência ECCLESIA.

Para o responsável católico, estas celebrações, que decorrem habitualmente ao início da madrugada, têm uma capacidade de convocação que ultrapassa os praticantes habituais, atraindo “muitos daqueles que andam arredados” da vida eclesial.

“O madeirense sente este apelo a ir participar numa Missa do Parto e, portanto, a recordar que é batizado e que tem uma missão a viver. Há até uma paróquia que tem a ‘missa dos arredados’, ou seja, uma Missa do Parto para aqueles que andam longe da igreja. E naquele dia todos vêm”, exemplificou.

“A memória é sempre viva. É a própria fé”, explica à Agência ECCLESIA o padre Bernardino Trindade, pároco da Ribeira Brava, após a celebra de uma das Missas do Parto, que atraem à localidade centenas de pessoas.

Após a Eucaristia, o adro acolhe um momento de convívio, que alarga a festa para lá das paredes da igreja.

Para o sacerdote, esta dinâmica onde o sagrado e o profano se tocam é essencial para “construir aos poucos esta grande celebração”, congregando milhares de pessoas por toda a ilha numa caminhada comunitária até à “Festa”, como é conhecido o Natal na Madeira.

Foto: Agência ECCLESIA/OC

D. Nuno Brás sublinhou que a intensidade com que se vive “a Festa”, praticamente de 1 de dezembro a 15 de janeiro, tem raízes profundas na história de isolamento e dificuldade do arquipélago.

“Era difícil ser madeirense, muito difícil. As pessoas viviam isoladas. Vinha-se ao Funchal a pé, carregando as coisas às costas. Creio que seria impossível de suportar sem a fé”, observou o bispo, acrescentando que a religiosidade “abre horizontes” e mostra que “Deus está com eles”.

Esta realidade histórica justifica, segundo o prelado, o carácter festivo e por vezes de “excesso” das celebrações madeirenses: “São necessários os momentos de festa e de desanuviar da vida para depois conseguir suportar aquilo que é uma vida muito dura”.

O bispo do Funchal, natural do Vimeiro, Concelho da Lourinhã, confessou que antes de assumir o ministério na diocese encarava os relatos sobre o Natal madeirense com algum ceticismo, achando que “exageravam”.

“O estar cá, o viver o Natal na Madeira, é uma coisa única, é uma experiência única, claramente. Só quem vive o Natal na Madeira é que é capaz de perceber toda esta animação e todo este dinamismo da fé”, admitiu.

D. Nuno Brás destacou ainda que, apesar de o Funchal ser uma cidade com 120 mil habitantes, mantém-se um espírito de proximidade nesta quadra, onde “toda a gente acaba por se cumprimentar” e partilhar a alegria, contrariando a tendência de privacidade dos meios urbanos.

“O Natal faz parte, marca muito o ano madeirense. É o centro do ano”, concluiu.

A entrevista vai estar em destaque na emissão do programa 70×7 do próximo domingo (RTP2, 17h40), dedicado às vivências do Natal na Madeira.

OC

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