Psicóloga Helena Marujo e teólogo João Manuel Duque sublinham relevância da segunda virtude teologal
Lisboa, 11 dez 2012 (Ecclesia) – A psicóloga Helena Marujo e o teólogo católico João Manuel Duque consideram que cultivar a esperança é uma atitude essencial para resistir às consequências da crise económica, sustentar a confiança e acolher a espiritualidade do Natal.
“O que se faz sem horizontes para fazer caminhos? A vida sem esperança é um deserto árido ou um deambular perdido e sonâmbulo”, sublinha a especialista em psicologia positiva na entrevista publicada na edição de hoje do semanário Agência ECCLESIA.
O diretor-adjunto do Núcleo de Braga da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa nota, por seu lado, que só a esperança pode “salvar” um tempo em que se sentem “os efeitos da injustiça” a nível pessoal e social.
“O mais profundo cerne da esperança será (…) a esperança de que a injustiça não tenha a última palavra sobre as relações humanas”, acrescenta.
Para Helena Marujo, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas da Universidade Técnica de Lisboa, o Natal pode fortalecer a esperança se for assumido como “um sinal de luz” ou um “acordar” que reenvia para o” brilho de quem repensa e luta por renascer, por manter viva a confiança numa humanidade com um futuro que inspire”.
“Este Natal, mas do que nunca na nossa história recente, tem de ir para além da fogosidade e superficialidade que a todos já cansa”, afirma.
O nascimento de Jesus, que veio ao mundo para o libertar de tudo o que faz “sofrer profundamente”, cumpre a “esperança milenar” que a Bíblia testemunha, aponta João Manuel Duque, acrescentando que o Natal celebra a “antecipação” de “um reino” em que todas as opressões serão superadas.
A esperança, explica Helena Marujo, resulta da integração simultânea de três atitudes: ter objetivos, acreditar que se consegue atingi-los e possuir a “capacidade de desenhar caminhos para chegar a essas metas”.
João Manuel Duque reforça a importância da confiança ao salientar que a esperança “é a capacidade de acreditar” na possibilidade de ultrapassar o que, no presente, é motivo de sofrimento.
Diante da crise é possível “deixar de acreditar na capacidade de criar novas formas de vida” ou optar por “reformular os horizontes” que são impostos do exterior, “decidir mais e pensar mais profundamente” e construir “caminhos” que visem “acabar com a condição de escravos em todas as áreas da vida, desde a politica ao social, da educação ao emprego”, observa Helena Marujo.
Esta atitude, realça, deve ser baseada na “virtuosidade pessoal e relacional”, bem como “na reconstrução de um sentido de comunidade e de bem comum”.
A crise também apresenta aspetos positivos e pode ser origem de renovação ao “colocar em causa as seguranças presentes” e tornar “mais evidentes as estruturas e as relações injustas”, lembra João Manuel Duque.
“É claro que a crise só terá esse efeito benéfico se, de facto, estiver ligada à esperança. No caso do desespero, a crise pode ser destrutora para o ser humano. É por isso que, nessas situações, se revela de modo mais claro que é pela esperança que somos salvos”, refere o teólogo, aludindo a uma passagem da carta de São Paulo aos Romanos em que o Papa Bento XVI se baseou para intitular a sua segunda encíclica (‘Spe salvi’, 2007).
RJM