Natal: Com a pandemia surgiram «mais gestos» e «maior preocupação com as pessoas» – Irmã Deolinda Rodrigues (c/vídeo)

Irmãs Missionárias Dominicanas do Rosário estão no Bairro 6 de Maio há 45 anos e, apesar de poucas casas persistirem, a congregação continua a receber muitos pedidos de ajuda

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 23 dez 2020 (Ecclesia) – A irmã Deolinda Rodrigues, superiora das Irmãs Missionárias Dominicanas do Rosário, agradeceu hoje os “gestos de Natal” que em tempo de pandemia vão acontecendo e mostram uma “maior preocupação com as pessoas”.

A Agência ECCLESIA desenvolveu uma iniciativa ao longo do período de Advento, em torno das tradições de Natal nas dioceses portuguesas e organizou um cabaz, que entregou à congregação religiosa, para apoiar cerca de 100 famílias neste Natal.

“Vai ser ótimo, uma excelente prenda e um gesto de Natal. Muita gente não tem nada. Sabendo as pessoas que é resultado de uma campanha nacional, tem outro sabor. Vai contribuir sem dúvida para que o Natal seja mais bonito e sentido”, explicou a religiosa.

A congregação iniciou a sua missão no Bairro 6 de Maio, na periferia da cidade de Lisboa, há 45 anos, acompanhando a sua construção e, agora, a sua demolição; a irmã Deolinda Rodrigues está ali há 35 anos.

“Nunca se tira um bairro, uma vida ou os anos. Faz parte de mim e assim desejo que seja. Fica para sempre, não desaparece. Mas custa: quando se olha o bairro e se recorda a relação, as amizades, as atividades conjuntas, também os sofrimentos… a vida é assim”, regista.

Do então Bairro 6 de Maio restam poucas casas; as famílias que ali cresceram residem agora em outros locais, em habitações com condições de saneamento que antes não tinham mas ali persistem algumas casas.

As casas que estão de pé têm pessoas a habitar. Quando a casa fica devoluta a câmara vem logo demolir. Numa das casas mora uma avó e duas netas, que vivem em péssimas condições. Esta senhora vai quase todos os dias telefonar para a autarquia para saber se têm resposta. Vive ali uma jovem de 16 anos numa realidade muito dura”.

O Centro Social foi criado em função da população e das suas necessidades: “Ter água, luz, construir as infraestruturas era sempre e em comunidade, com as comissões de moradores que foram sendo constituídas. Eram elas que decidiam o futuro do bairro e o que era mais urgente fazer”.

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Atualmente persiste a creche, que acolhe 20 crianças, o pré-escolar, frequentado por 75 crianças, e o serviço de atendimento à população que diariamente atende mais de 30 pessoas, “de toda a parte da Amadora, na sua maioria proveniente dos PALOP, Cabo Verde, Guiné e São Tomé e Príncipe”, explica Mariana Neves, Educadora Social na instituição.

Se os antigos moradores mudaram a sua geografia, ganhando condições de habitabilidade, persiste um problema de pobreza, testemunhado pela congregação que continua a acompanhar as muitas pessoas que diariamente se deslocam ao centro.

A educadora social dá conta de pessoas residentes em Portugal há vários anos, mas também outras acabadas de chegar: “Os sites, apesar de bem estruturados, não têm fácil acessibilidade para quem chega há pouco tempo e desconhece a língua portuguesa. Muitas pessoas que nos procuram dizem que não saberiam onde ir se não viessem aqui”.

Naquele gabinete faz-se acompanhamento a famílias, procura-se a legalização, ajuda-se com a pedir o subsidio de desemprego, “cuja procura cresceu com a pandemia”, mas também se pede apoio alimentar.

Muitas vezes as pessoas chegam com um problema mas a causa raiz é outra”, adianta Mariana Neves.

A irmã Deolinda Rodrigues regista a procura de pessoas que chegam de “Óbidos, das Caldas da Rainha”, sem perceber porquê, uma vez que não publicitam a ajuda prestada; são 45 anos a responder a uma população que continua a precisar de ajuda, vive na pobreza, e ali levou pessoas desconhecidas antes da pandemia.

Foto: Agência ECCLESIA/MC

“Houve um aumento de procura de ajuda alimentar. O Banco Alimentar aumentou muito. Tivemos a sorte de, no primeiro período de confinamento, um grupo de jovens que se juntaram para ajudar famílias, e através deles demos mais de 100 cabazes de alimentos. A Equipa d’África foi outra instituição (que ajudou). Somos contactados por empresas que querem ajudar e nós agradecemos essa ajuda porque não temos meios para chegar a todos”, indica.

Nos gestos de solidariedade a religiosa nota um “aumento de preocupação” uns pelo outros, com ações de ajuda: “Apesar da pandemia, está a acontecer um nível de preocupação dos outros: animando, visitando, telefonando, ajudando com alimentos… a criatividade tornou-se mais rica”.

Na senda do carisma que vivem – ‘Evangelizar os pobres nas situações missionárias onde a Igreja mais precisa de nós’ – a congregação religiosa gostaria de continuar na ajuda à população e continuando a congregar as pessoas que, não vivendo no bairro, não o tiram de dentro de si.

“Gostaríamos muito de poder continuar a ajudar, sobretudo através da creche que é muito necessária, e também do apoio comunitário. Talvez alargar mais aos idosos, criar algo novo. Haverá um projeto de convocação destas pessoas e trabalhá-las de outra forma”, conclui a irmã Deolinda Rodrigues.

LS

 

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