Mensagem de Natal de D. Manuel Felício, Bispo da Guarda
O Natal está-nos a bater à porta.
E nós queremos prepará-lo bem, procurando contemplar, para além dos enfeites e símbolos desta quadra, aquele Menino deitado no Presépio de Belém, sob o olhar atento de Sua Mãe e de S. José, grande sinal da beleza e encanto de toda a vida humana.
Embora com a aparência de qualquer outro recém-nascido, de facto, Ele é o Filho Único de Deus, o Salvador.
Neste Menino vemos a fragilidade e a dependência de qualquer vida quando começa, aqui acentuadas por ter de nascer fora de casa, numa manjedoira de animais, no silêncio e na pobreza.
Mas, de facto, toda a vida é assim mesmo. Nasce pequenina e frágil, começando por estar dependente, em tudo, dos cuidados maternos e paternos e depois de outras pessoas e instituições.
À medida que cresce e se desenvolve, vai mostrando e aplicando as suas potencialidades até à fase em que, sobretudo pelo trabalho e o empenho em iniciativas várias para bem próprio e dos outros, atinge a sua maturidade adulta.
Depois vem a diminuição das energias, com perda de capacidades, até que atinge o fim natural, realidade com que todos contamos.
Ora, na parte final da vida, à medida que as forças diminuem e as fragilidades aumentam, até chegar, muitas vezes, a uma dependência quase total, cada pessoa, para continuar com o gosto de viver, precisa de cuidados redobrados, que devem ser prestados pelas famílias, é certo, mas também com ajudas que a sociedade como tal tem obrigação de garantir, a começar pelos serviços de saúde e de acompanhamento especializado, sobretudo dos mais débeis.
Quando isso não acontece a sociedade falha. E igualmente falha, sempre que cai na tentação de oferecer a morte como solução para as dores e outras dificuldades das pessoas.
A recente aprovação parlamentar da lei que permite a eutanásia e o suicídio medicamente assistido é um dos sintomas da falência do sistema, porque oferecer a morte nunca pode ser solução para qualquer problema humano. Por isso, é legítimo o empenho de todas as pessoas de boa vontade, a começar pelos profissionais de saúde, para rejeitar as possibilidades abertas pela legalização da eutanásia e do suicídio medicamente assistido. Isto porque a vida humana é sempre um dom precioso, em todas as suas fases, desde a conceção até à morte natural e, por isso, nunca deve ser intencionalmente provocada.
E quando sabemos que as carências do nosso sistema de saúde são muitas e estão longe de se encontrar superadas, o risco passa a ser o recurso à eutanásia como a solução mais rápida e menos onerosa.
Já temos legislação sobre o testamento vital, que é suficiente para enquadrar as determinações do próprio sobre o final da sua vida.
E tudo isto se faz em nome da liberdade do indivíduo, que, em muitos casos, não tem condições nem meios para ser devidamente exercida, porque, por exemplo, não pode aceder aos cuidados paliativas, que, em situações terminais, podem tirar as dores ou, pelo menos, diminui-las.
Que este Natal a todos nos ajude a contemplar, partindo do Menino de Belém, a beleza e o encanto da vida, mesmo sabendo das suas muitas limitações.
Santo Natal para todas as pessoas e suas famílias.
14.12.2022
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda