Nas fontes da fé: o desafio da semana da unidade

João Luís Inglês Fontes, Grupo Ecuménico Jovem

O tema para a próxima Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que celebramos entre 18 e 25 de Janeiro, é-nos proposto, este ano, pelas Igrejas cristãs presentes em Jerusalém, na Terra Santa. No texto bíblico que lhe serve de base, retirado dos Actos dos Apóstolos, é invocado o modelo da Igreja primitiva, que permanecia unida «no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fracção do pão e nas orações» (Act. 2, 42).

Regressar a este modelo implica ir de novo às fontes da fé, ao cerne daquilo que constitui o cerne e o caminho para a unidade: a partilha da Palavra e da fé comum que nos foi anunciada pelos Apóstolos, a comunhão fraterna, a partilha da mesa eucarística e a oração. Aqui encontramos o programa da Igreja e o alimento que permite as homens e mulheres que aceitam o seguimento de Jesus ousarem, com outros homens e mulheres, a loucura de procurarem um mundo mais humano e fraterno.

Mas, ao mesmo tempo, é igualmente significativo que este modelo seja de novo colocado perante cada um de nós e das nossas comunidades e Igrejas pelos cristãos que vivem em Jerusalém. Tanto ontem como hoje, a Cidade Santa constitui um lugar de contradição: para ela é sonhada a utopia da paz e nela decorrem os momentos essenciais da vida de Jesus e o seu mistério de passagem deste mundo para o Pai; nela acontece o Pentecostes e esse anúncio grandioso de uma fé proclamada nas diversas línguas e culturas; mas também nela perpassam ainda muitas tensões, quer entre as diversas religiões monoteístas, quer entre as diversas Igrejas cristãs; em torno dela assistimos a conflitos não raras vezes sangrentos e a situações que atentam contra a liberdade e a dignidade das pessoas.

Os cristãos que prepararam para nós estes subsídios para a nossa oração comum testemunham, contudo, o esforço de diálogo e colaboração entre as Igrejas presentes em Jerusalém. Este constitui um efectivo sinal de esperança, nascido, sintomaticamente, num contexto de necessidade de luta comum em prol da paz e da promoção da justiça e da dignidade humana.

Creio que, também daqui, podemos tirar alguns desafios. Embora não tenhamos ainda atingido a unidade visível e plena – e a impossibilidade da partilha efectiva da mesa eucarística é, desse facto, um dos sinais mais dolorosos -, é também verdade que muito caminho já foi feito, e também entre nós, mostrando o tanto que os cristãos já podem fazer em conjunto. O próprio tema da semana aponta os caminhos possíveis: a partilha da Palavra, a oração, a caridade, a partilha dos dons e dos bens, o serviço do outro.

Neste Oitavário, muitas celebrações ecuménicas irão acontecer, reunindo jovens e menos jovens, responsáveis das diversas Igrejas e cristãos empenhados nas suas comunidades, abertos a suplicar em conjunto o dom da unidade. Assim acontecerá no Porto, em Lisboa, em Coimbra, em Aveiro, em Viseu, em Braga…

Esta oração é um desafio a centrarmo-nos em Cristo, único Senhor, a escutar o Espírito que nos chama à comunhão. Mas também a ousar a partilha e o testemunho comum. O próprio texto dos Actos dos Apóstolos atesta como os cristãos partilhavam tudo entre si e viviam na simplicidade (cf. Act. 2, 42-47). Não será este também um desafio essencial nos tempos que correm, onde as dificuldades económicas e sociais, que atingem sobretudo os mais pobres e desprotegidos, convoca todos os cristãos a uma opção pela partilha e por uma vida mais simples e criativa? Seremos capazes de abraçar este desafio, não só individualmente ou nas nossas comunidades ou Igrejas, mas também ecumenicamente, trabalhando e assumindo um testemunho comum, claro e profético, por um mundo mais humano e fraterno? Aceitaremos começar por nós próprios, para que este testemunho se possa tornar uma realidade?

João Luís Inglês Fontes,

Grupo Ecuménico Jovem

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