José Tolentino Mendonça destaca importância da narração e do tempo na Bíblia
O padre José Tolentino Mendonça lembrou hoje que o contributo das narrativas biográficas para a consolidação da fé remonta aos primeiros escritos bíblicos.
Este especialista falava no painel “Tempo e narrativa”, integrado na 2.ª Jornada de Teologia Prática que hoje se realiza na Universidade Católica, em Lisboa.
No entender do poeta e tradutor, a expressão “eis-me aqui”, encontrada em diversos passos da Sagrada Escritura, constitui “o princípio da identidade bíblica”: “primeiro vem a disponibilidade para ser ponte, para o jogo da relação, e depois é que vem a história”.
A importância da narração e do tempo atinge o apogeu com os Evangelhos, os textos que acompanham mais de perto a vida de Cristo.
“A identidade de Jesus não vem do outro, mas a nossa identidade vem seguramente com a colaboração do outro”, assinalou o coordenador do Curso de Doutoramento em Teologia da Universidade Católica.
Segundo o director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, as narrativas da Escritura revelam que a identidade de Jesus “não é dada à partida”, sendo antes “uma construção que os evangelhos vão deslindando à medida da multiplicidade dos encontros”.
As perguntas “Quem dizem os homens que eu sou?” e “Quem dizeis vós que eu sou?”, feitas por Jesus aos apóstolos que o seguiam, revelam, segundo o biblista, que Cristo pede que “o relatemos a Ele”, um apelo que continua hoje através da leitura e da meditação do texto sagrado.
A preponderância da narração no cristianismo não se esgota na Bíblia, como se comprova na profissão de fé dos cristãos, o Credo de Niceia: as suas formulações teológicas precisam da narrativa, pois é ela que permite o crescimento e o reconhecimento da fé, salientou o padre José Tolentino Mendonça.
A concluir, o poeta madeirense assinalou que a experiência da fé faz-se ao contar histórias de vidas, tecidas não apenas de palavras mas também dos espaços em branco que habitam entre elas.