Padre Hugo Goncalves, Diocese de Beja
A Jornada Mundial da Juventude, nas suas inúmeras edições, tendem em deixar marcas profundas não só nos jovens que nela diretamente participam, mas também nas comunidades que recebem estes peregrinos de Cristo, e esta JMJ não foi exceção. A comunicação social que semanas antes tinha entrado numa espiral de crítica, viu-se rendida perante aquilo que pode experimentar no meio dos jovens, o mesmo se passando com outras vozes críticas. E toda esta transformação se deveu ao testemunho dos milhares de jovens que vieram até Lisboa, para fazer uma experiência, um encontro pessoal e comunitário com Jesus, num convite lançado pelo Papa Francisco. Ao contrário do que alguns pensavam, a JMJ não é um encontro centrado no Papa, mas em Cristo Jesus, levados pela mão do Santo Padre, e isso ficou bem expresso nos inúmeros testemunhos de jovens participantes.
Se pudesse definir, numa imagem evangélica, o percurso feito ao longo dos seis dias da Jornada, escolheria o ‘caminho de Emaús’, na medida em que dia após dia, desde a Missa de abertura, passando pelos encontros “Rise Up”, os momentos de oração e adoração, pela escuta de testemunhos, pela Via Sacra, Vigília e Missa de envio, foi-se sentido e vivendo um crescendo, não só exterior, mas sobre tudo no íntimo de cada coração, que levou a que se pudesse dizer: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho» desta Jornada?
Os dias da JMJ foram um verdadeiro Pentecostes, não só pela universalidade de pessoas vindas de todos os cantos e recantos do mundo, nem só pela multiplicidade de línguas faladas, mas porque todos nos sentimos e vivemos como irmãos, unidos na mesma fé, e que se expressava nos inúmeros gestos de caridade uns para com os outros: os abraços, os sorrisos, o ajudar os que tinham uma qualquer dificuldade de locomoção, a partilha do que tinham, etc. Mas este Pentecostes não foi um acontecimento centrado apenas naqueles jovens; ouvi o testemunho de várias pessoas que acompanharam pela televisão todos estes dias da JMJ e que se sentiram tocadas, comovidas, que lhes ardeu lá dentro o seu coração. Nada ficou igual em nós, pessoalmente, mas também na Igreja em Portugal. E agora, o que iremos fazer com esta dádiva de Deus à Igreja no nosso país, às nossa comunidades? O que é que eu quero fazer agora com tudo aquilo que vivi e recebi? Os discípulos de Emaús não ficaram sentados à mesa, e a proximidade da noite que os levara a convidar aquele peregrino a ficar e a cear com eles, já não fora impedimento para partir e ir ao encontro dos outros para levar a alegria da experiência do Ressuscitado. Esta deverá ser a nossa atitude agora, a de partirmos ao encontro das periferias das nossas comunidades, dos nossos amigos e familiares, para lhes falarmos do nosso encontro com Jesus e de como o descobrimos, não só ao partir do pão, mas também na multiplicidade de acontecimentos experimentados ao longo do caminho.
Que a Igreja em Portugal possa agora dar mais voz aos jovens, que os deixe ser protagonistas do anúncio do Evangelho, mesmo quando parece utópico que eles queiram mudar o mundo todo e nós, mais adultos, saibamos que isso é um trabalho de grão a grão; não lhes cortemos a vontade, a audácia, a suas asas, mas estejamos sempre próximos deles, acompanhado-os no seu caminho, rezando com eles e por eles, pois serão eles os protagonistas da mudança da Igreja, são eles o futuro das nossas comunidades. Agora é tempo de propor-lhes a partilha das suas experiências, o momento de darem testemunho nas suas comunidades; depois o momento de continuar a crescer na fé, tanto na escuta e meditação do Evangelho, como na oração, na Eucaristia e na reconciliação.