Padre Manuel Ribeiro, Diocese de Bragança-Miranda
O ensaísta Pedro Mexia escreveu recentemente um artigo no Semanário Expresso (Advento, Semanário#2668, 15/12/23) em que, de alguma forma, suscita e provoca os fiéis crentes a posicionarem-se quanto à fé que professam. Por outras palavras, a assumirem as verdades do Credo na vida ordinária de cada um. Adverte, no entanto, o ensaísta que, “infelizmente, muitos teólogos, e muitos crentes, tendem a considerar o cristianismo apenas como instituição ou como ideologia. Interessa-lhes uma “religião sem transcendência”: o pior de dois mundos”. Como isto é verdade!
O “hodie” (expressão latina que significa “o hoje”) impõe-se-nos. Não como uma promessa, mas como presença. Já deram conta de quantas oportunidades de mudança já desperdiçamos? Vejam as vezes que dizemos que vamos mudar e que, sucessivamente, adiamos. A história pessoal de cada um ganha sentido sempre e desde que se embrenhe na transcendência de Deus. Esta é verdade inequívoca. Com efeito, quando se configura e se reestrutura em torno de Deus, plena e totalmente revelado em Jesus Cristo, o ser humano reconhece-se como parte deste mundo, desta Casa Comum como tão belamente diz o Papa Francisco.
Já o grande filósofo Eduardo Lourenço afirmava que “a Nossa História é um estendal de ocasiões perdidas”. Referia-se, primeiramente, à História Universal e à História Portuguesa, e, paralelamente, à história pessoal de cada ser humano. Sim, quantas ocasiões perdidas com medo do medo, com medo de sofrer e não ser (ou não ter).
A sabedoria antiga afirmava que a vida é como um sopro. De tão leve que ela é, jamais a poderemos conter. Assim acontece com a nossa própria história. Já não a conseguimos conter. Dela nasce uma força pulsante que nos faz sonhar e, ao mesmo tempo, temer. Por isso, não temamos, não tenhamos medo!
Ousemos mudar e aproveitar cada ocasião para nos moldar a Deus para seremos sábios que debatem por ideias, que lutam pela dignidade de cada ser vivo, que se sentem conscienciosos em defesa de uma ecologia sustentável e integral, e que sejam promotores do Bem Comum para o bem de todos. Com assertividade e brilhantemente, Sócrates assegurou: “as pessoas sábias falam sobre ideias, as pessoas comuns falam sobre coisas e as pessoas medíocres falam sobre pessoas”. Por isso, “não nascemos cristãos, tornamo-nos cristãos (Simone de Beauvoir, filósofa).”
Manuel Ribeiro, padre