Homilia do Bispo de Viseu no dia de Natal “Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por Seu Filho”. “Adorem-n’O todos os Anjos de Deus”. Quem é este Filho? Está apresentado no Evangelho: é a Palavra do Pai; é a vontade criadora de Deus; é a comunicação de Deus que é Amor, Vida e Paz. É a referência perfeita do homem, de todo o homem que quer ser “novo”, segundo os valores da nova criação e da nova pátria à qual somos chamados. O Natal é o marco que separa o Antigo do Novo Testamento; que distingue o mundo velho do mundo novo; que apresenta o homem novo e que substitui o homem velho. Por isso, importa que aceitemos o Natal e que acolhamos o Menino, Verbo de Deus, tornando-nos, nestes tempos que são os últimos, Seus mensageiros. No mundo novo, não tem lugar o mundo velho, marcado pela injustiça, pela guerra, pela exclusão, pela desigualdade, pela marginalização… Este mundo já foi testado e criou tantos horrores: guerras mundiais e atentados terroristas; campos de concentração e de refugiados; experiências de escravatura e de pena de morte; muitos crimes como o aborto, a tortura e outras múltiplas aberrações… Este mundo velho já foi testado nas faltas de sentido para a vida; nas múltiplas dependências e fugas aos compromissos; nas infidelidades e desfasamentos de famílias, de corações, de pessoas, de vidas; em depressões e esgotamentos por falta de esperança, de ideais e de saídas… O mundo velho foi testado e não deixa saudades. Deixou, ao contrário, uma “cultura de morte” que importa inverter. Há que entrar no mundo novo, tornando-nos todos pessoas novas, até porque estes tempos são os últimos… Não haverá outro Messias; não haverá outra Palavra; não haverá outra mensagem para os novos mensageiros… O Criador esgotou os meios, ainda que nunca esgote a paciência… Os homens têm já o que esperavam e, agora, é Deus que não Se cansa de esperar pelos homens. A quem O acolhe, Ele dá prémio máximo e conhecido – torna-os filhos de Deus… Vivendo com Deus, temos tudo: Vida, Luz, Graça, Verdade e Paz. Então, o Natal é o convite a partir, seguindo a esperança, guiados pelo Homem Novo, o Filho de Deus e construindo o mundo novo. Precisamos de despertar o mundo que continua agarrado a outros valores que passam pelo individualismo, pelo egoísmo, pela corrupção, pela mentira, pela hipocrisia… Há necessidade de mensageiros que anunciem a paz, que transmitam boas novas, que proclamem a alegria, a esperança e a salvação. Importa fazer nascer a “cultura da vida”, onde as pessoas valham pelo que são e não pelo que produzem; onde as pessoas sejam iguais, independentemente dos bens materiais, da cor da pele, da religião ou da política. Há necessidade de profetas que anunciem o mundo novo e que tenham como referências a dignidade de toda a pessoa humana e os grandes valores do Natal, nomeadamente, a vocação à vida, a vocação ao amor e a vocação à comunhão. Um outro valor fundamental do Natal é o valor da Família, do qual dependem muitos dos outros. Foi numa Família que Jesus nasceu e é a Família reunida que serve de referência aos Pastores e aos Magos… É uma Família reunida, como comunidade de vida e de amor, que serve de referência para o acolhimento à vida e para o crescimento da vida. Precisamos de um tipo de Família que assuma, com responsabilidade e alegria, a “missão de guardar, revelar e comunicar o amor”, nas palavras da Familiaris Consortio. Precisamos de um tipo de Família que seja comunidade ao serviço da vida, que seja expressão e construtora de uma Comunidade de pessoas. Precisamos de um tipo de Família que seja acolhedora da vida que é gerada, da vida que nasce, da vida que cresce, da vida que envelhece e da vida que morre para este mundo, abrindo-se para a vida nova no mundo novo – a Pátria celeste. Precisamos de um tipo de Família onde os esposos sejam cooperadores do amor de Deus Criador e que essa criação fomente os valores essenciais da vida humana, nos esposos e em todos os elementos que a constituem. A Família aparece como a célula fundamental da sociedade e da Igreja e é tão essencial no Plano da Criação e da Redenção que ela é mesmo a Igreja Doméstica, espaço de salvação e de encontro com Deus e com os irmãos. Daí que, o Natal, é uma referência para a Família. Porém, é, também, uma referência para os poderes políticos e sociais e que têm como missão fundamental o bem comum e o bem das comunidades e das pessoas. E não é política do bem comum aquela que não promove e que não defende a Família como uma comunidade de vida e de amor… Não é política do bem comum aquela que não promove e que não defende a Família como uma comunidade de pessoas que geram, educam e fazem crescer a vida humana e a vida social… Não é política do bem comum aquela que não defende a vida de todos e de cada um dos cidadãos, desde o seu início até ao seu fim natural… A pessoa humana não é uma questão religiosa, somente; como também não é uma questão de consciência individual ou uma questão de moral pessoal, somente… A pessoa humana é uma questão de valor inviolável, de dignidade, de direitos fundamentais… É uma questão social… É uma questão de Estado de Direito e de igualdade de todos os cidadãos que, quanto mais pequenos, mais frágeis, mais doentes, mais diferentes, mais exigem e precisam de protecção… Como cidadãos, temos que exigir isso do nosso Estado, sem o que, somos cúmplices de injustiça, de imoralidade, de falta de legitimidade democrática e social… O Natal é, assim, a referência para todos. É o cumprimento de todas as promessas de Deus Pai, de Deus Amor; é a realização de todas as esperanças dos homens, filhos de Deus. O Natal é a maior prenda de Deus aos homens – é a oferta da nossa dignidade, da nossa liberdade, da nossa vocação à plenitude, à novidade da vida, à felicidade total e perfeita. Demos, com os Anjos, Glória a Deus nas Alturas e vivamos e partilhemos a Paz, com todos os homens na Terra. Santo e Feliz Natal para todos… AMEN! ALELUIA! D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu