Não esquecer as vozes de clamor e de sofrimento

D. António Francisco dos Santos envia Mensagem de Gratidão à Arquidiocese de Braga Recebo hoje aqui, em Roma, das mãos do Santo Padre Bento XVI, uma nova missão, ao enviar-me como Bispo diocesano à Igreja irmã de Aveiro, sufragânea desta nossa Arquidiocese de Braga. Ninguém pode imaginar a minha surpresa ao ser chamado para esta nova missão, quando dava apenas os primeiros passos no ministério episcopal. Ninguém estranhará a espontânea apreensão com que recebo este novo chamamento, consciente que estou da minha pobreza. Ao jeito de Abraão, também eu deixo mais uma vez a minha terra — agora a abençoada terra de Braga e esta querida Arquidiocese, que desde essa hora tão bela do Pontifical Crismal na Sé, em dia de Quinta-Feira Santa de 2005, me adoptou. A palavra de Cristo na Cruz, (do Senhor Bom Jesus, como tão devotamente O invocamos), de que fiz meu lema episcopal — In manus Tuas — dá-me a necessária fortaleza de alma para partir sempre com serenidade, confiança, alegria e paz. Ao olhar a nossa Cidade de Braga, de junto da Mãe, a Senhora do Sameiro, o melhor lugar donde mais demoradamente gostava de a contemplar, e ao percorrer os caminhos e estradas da Arquidiocese, por onde reparti com alegria e intensidade a minha vida ao longo deste tempo, sinto que esta é sobretudo uma hora de gratidão. Dou graças a Deus que aqui me conduziu, pelo Seu Espírito, com desvelo de Pai, para ser Pastor segundo o Coração de Seu Filho. Agradeço ao Senhor Arcebispo Primaz, Senhor D. Jorge Ortiga, e ao Senhor D. Antonino Dias pelo acolhimento fraterno, dedicação constante e amizade sentida de um viver feliz de verdadeiros irmãos na comunhão de um só e único ministério. Esta vivência em equipa episcopal modelou em mim, para sempre, o modo de ser bispo. Estendo esta palavra de gratidão aos senhores D. Eurico Nogueira e D. Carlos Pinheiro, referências em permanência de generosa entrega das suas vidas a esta Igreja arquidiocesana. Recordarei sempre a fé, o encanto e o entusiasmo encontrados, sentidos e vividos nas Visitas Pastorais — momentos únicos, densos e belos de comunhão com os sacerdotes e com as comunidades cristãs, desde as crianças aos idosos, desde os jovens às famílias; sem nunca mais esquecer os milhares de crismados a quem confirmei na fé e no sacramento com a unção santa do Crisma, multiplicando, através deles, a abundância dos dons do Espírito na Igreja e no mundo. Levarei comigo as marcas perenes do testemunho exemplar e generoso, do acolhimento dedicado e sincero e da comunhão fraterna e solícita de todos os sacerdotes sempre irmãos e amigos. Como esquecer, também, a experiência tão benéfica do trabalho realizado e da aprendizagem pastoral adquirida nos Serviços Centrais da Diocese, na Comissão dos Bens Patrimoniais, na Comunicação Social Diocesana e na Casa Sacerdotal? Esta foi a última e entusiasmante missão que o Senhor Arcebispo me confiou. Agradecer-lhe-ei sempre esta oportunidade de servir mais de perto os nossos sacerdotes num espaço que sempre senti como santuário de gratidão, casa de irmãos e escola de vocações. Dou graças a Deus: pela vida e pelo ministério episcopal aqui realizado, pelas comunidades que encontrei e com quem celebrei a fé com amor, alegria e paz (Tim.), pelas pessoas que o Senhor me enviou e por todas aquelas a quem o Senhor me enviou. Não posso, nesta hora nem nunca, calar a voz de clamor e de sofrimento, nem perder os traços do rosto de tanta gente que conheci, marcada pela dor, pela doença, pela pobreza, pela solidão, pelo abandono, pelo desemprego e por tantas e inumeráveis provações. No rosto de quem sofre, vi tantas vezes reflectido e projectado o rosto de minha Mãe doente; e senti que, numa distância sempre próxima, ela me acompanha também aqui, em todos os momentos do meu ministério, ainda que com um modo diferente de presença, estímulo e bênção. Neste novo momento de despojamento para partir e me entregar a nova missão – momento vivido com serenidade e confiança, sem ruptura nem desconforto — confio-me à protecção, amparo e solicitude da Mãe, a Imaculada Conceição do Sameiro, rezando: Conduz-me, Mãe, pelos caminhos da gratidão, da confiança e da entrega plena, radical e feliz ao serviço da Igreja, hoje e sempre, aqui e em todo o lugar onde a Tua mão de Mãe me guiar. Amen. Roma, 21 de Setembro de 2006 + António Francisco dos Santos, Bispo Auxiliar de Braga

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Agência ECCLESIA

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