Oliveira plantada há 10 anos, no Vaticano, por Shimon Peres, Mahmoud Abbas e Papa Francisco «continua a ser regada», mas secretário do Vaticano para a relação com os Estados lamenta falta de esforços de «diálogo direto»
Nova Iorque, 19 set 2023 (Ecclesia) – O secretário do Vaticano para as relações com os Estados pediu na Assembleia das Nações Unidas, em Nova Iorque, o reconhecimento de Jerusalém como “cidade do encontro”, onde diferentes religiões possam viver em “respeito e boa vontade mútua”.
“A Santa Sé vê Jerusalém, não como um lugar de confronto e de divisão, mas como um lugar de encontro, onde cristãos, judeus e muçulmanos podem viver juntos com respeito e boa vontade mútua”, pediu o arcebispo D. Paul Richard Gallagher, na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas, que se realiza em Nova Iorque, até 26 de setembro.
O responsável diplomático sugeriu a reflexão, nos grupos de trabalho, sobre dar a Jerusalém um “«estatuto especial» garantido internacionalmente”.
“Há anos que a Santa Sé promove a ideia de um estatuto especial, porque está firmemente convencida de que quem quer que administre a Cidade de Jerusalém deve aderir aos princípios garantidos internacionalmente, tais como: a igualdade de direitos e deveres dos fiéis das três religiões monoteístas (cristãos, judeus e muçulmanos), a garantia absoluta da liberdade de religião e de acesso e culto nos Lugares Santos, e o respeito pelo regime do Status Quo, onde ele se aplica. Para o efeito, o carácter multirreligioso específico, a dimensão espiritual e a identidade e o património cultural únicos de Jerusalém devem ser preservados e promovidos”, afirmou, num discurso publicado pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
O arcebispo sublinhou o quanto a “paz entre israelitas e palestinianos, e na região em geral”, seria benéfica para a comunidade internacional e saudou as iniciativas de paz que se organizam, “desde que não sejam em detrimento das populações locais, nem das legítimas reivindicações de israelitas e palestinianos”.
O secretário do Vaticano para as relações com os Estados e organizações internacionais lamentou os “atos de intolerância em Jerusalém”, realizados por “extremistas judeus contra cristãos”, e pediu a sua condenação da parte de todos os governos, “em primeiro lugar e acima de tudo pelo Governo israelita” e indicou a educação para a fraternidade como o caminho para a construção futura.
“É, de facto, triste constatar que ainda estamos aqui a discutir o conflito israelo-palestiniano, 30 anos após a assinatura dos Acordos de Oslo, em 13 de setembro de 1993, que permitiram vislumbrar a solução de dois Estados para os dois povos”, recordou, assinalando ainda o estabelecimento das “relações diplomáticas com o Estado de Israel, em 1993, com o Reino da Jordânia, em 1994, e um novo diálogo com a Organização de Libertação da Palestina, que culminou no reconhecimento pleno do Estado da Palestina, em 2012”.
D. Paul Richard Gallagher recordou a importância daquele território para a Santa Sé, uma vez que o estado de Israel e o estado da Palestina guardam os “Lugares Santos do Senhor Jesus, confiados pelos Papas à Custódia dos Frades Menores há mais de 800 anos”; também naqueles territórios se encontra a “presença ininterrupta e constante da comunidade cristã desde há 2000 anos”.
O responsável recordou o apelo “repetido” do Papa Francisco a israelitas e palestinos para um “empenho num diálogo direto”, procurando ultrapassar “cada uma das questões” que ao longo dos anos se “tornaram mais complicadas e parecem não ter solução”.
“Há quase dez anos, em 8 de junho de 2014, o então Presidente israelita Shimon Peres e o Presidente palestino Mahmoud Abbas encontraram-se no Vaticano para rezarem juntos pela paz e – juntamente com o Papa Francisco – plantaram uma oliveira nos jardins do Vaticano. Depois desse encontro, parece-me que não se realizaram mais encontros semelhantes de alto nível. No entanto, continuamos a regar essa oliveira, à espera de que os Presidentes de ambos os Estados, acompanhados pelos seus Governos, voltem para colher os frutos da paz”, apontou.
LS