Nação arco-íris

Na coragem do perdão, que martiriza, encontram-se as mais frutuosas sementes da feliz convivência entre povos, culturas, raças, etnias. Da vida em democracia.

À distância, as expectativas só podem ser positivas. A realização de um campeonato do mundo de futebol no Continente africano gera inevitáveis esperanças para uma região à espera de conquistar dignidade, justiça e paz para a vida de todas as pessoas.

Segurança, construção de estádios e garantias de que toda a logística seria cuidada ao pormenor parecem ter sido as condições impostas por Zurique. Delas dependeria a realização de um evento global semelhante, nesta como noutra qualquer parte do mundo. Mas a escolha da África do Sul pela FIFA constitui um contributo decisivo para que o mundo conheça um povo, uma sociedade, uma Nação.

Europeus, asiáticos, africanos e, sobretudo, a mestiçagem crescente de culturas e peles. Assim se caracteriza essa “nação arco-íris”, escrita, lida e vista no mundo inteiro no contexto do mundial do futebol.

África do Sul aponta como meta a reconciliação plena entre grupos e pessoas. Um  ideal conquistado com o preço do sangue de muitos negros e, agora, de brancos. Sobretudo com a capacidade de perdoar, persistentemente afirmada detrás das grades por Mandela, à espera, em cada dia que passa, de um número crescente de seguidores. Na coragem do perdão, que martiriza, encontram-se as mais frutuosas sementes da feliz convivência entre povos, culturas, raças, etnias. Da vida em democracia.

Marca essencial da experiência cristã em qualquer parte do mundo, a promoção da reconciliação, o exercício do perdão merece todo o empenho entre as igrejas cristãs sul-africanas, onde o trabalho da Comissão Verdade e Reconciliação tem sido, desde 1995, fundamental para registar e resolver casos graves de violações de direitos humanos.

Mulheres e homens da Igreja Católica, missionários brancos, foram os primeiros a “invadir” guetos de africanos, aprendendo com eles, promovendo no seu interior a reconciliação.

Pastoral que continuam, por estes dias, também a partir do futebol. São disso exemplo o campeonato pela paz, o “Soccer Peace Tournament” entre adeptos de diferentes bairros, ricos ou pobres, ou o trabalho da rede “Talitha Kum”, na prevenção e luta contra o tráfico de pessoas, ou ainda a iniciativa “Church on the ball”, da Igreja Católica na África do Sul, para valorizar o desporto e acolher quem visita o país.

Se o mundial de futebol for um contributo efectivo para a plena reconciliação, são os africanos, do Sul ou do Norte, os grandes vencedores.

Paulo Rocha

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Agência ECCLESIA

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