Na Eucaristia, presidir é servir Cristo e a Comunidade

Padre Armindo Janeiro, Diocese de Leiria-Fátima

Nos primeiros séculos, a celebração da Eucaristia aparece sempre como uma acção comunitária/eclesial e tem como momento central a Oração Eucarística [eucaristia significa “acção de graças”], mas quem assume a presidência?

No Novo Testamento, esta questão não tem uma resposta clara. A indicação mais explícita que conhecemos encontra-se nos Actos dos Apóstolos (Act 20,7-11) onde se diz que, na comunidade de Tróade, Paulo dirigiu-se aos irmãos e partiu o pão. A Eucaristia era, portanto, presidida por alguém que tinha “responsabilidade pastoral” na comunidade. Contudo, a partir dos séculos II-III, a presidência da Eucaristia aparece clara e constantemente reservada àqueles a quem hoje chamamos “ministros ordenados” ou seja: bispos e presbíteros (Matias Augé).

Esta clarificação não é secundária, pois aquele que preside desempenha um papel essencial quer na compreensão da Igreja quer na da própria Eucaristia. A comunidade que celebra a Eucaristia é um organismo vivo e o presidente, representando Cristo, “completa a assembleia” e faz dela Igreja viva.

São João Crisóstomo explica-nos, fazendo referência ao diálogo inicial da Oração Eucarística, que esta “é uma oração comum, pois o sacerdote não agradece por si só; todo o povo oferece a Eucaristia com ele; o sacerdote só inicia a sua acção de graças depois de obter o consentimento dos fiéis, expresso na resposta: ‘É nosso dever, é nossa salvação’. Todos nós somos um só corpo, e entre nós não há outra diferença além da que pode existir entre os membros de um mesmo corpo” (PG 61,527).

Com precisão, o Cânone Romano (I Oração Eucarística) fala de “Nós, vossos servos, com o vosso povo santo”. O tema unitário de toda a celebração eucarística é “Nós”: a Igreja, não apenas aquele que preside, mas toda a assembleia “hierarquicamente constituída”. Consequentemente, não se pode dizer que o que faz o padre é valioso e o que o povo faz é apenas moldura decorativa e cerimonial. Como já afirmava o concílio de Trento, a Eucaristia é celebrada “pela Igreja através das mãos do sacerdote”. A Igreja é sujeito e o sacerdote é instrumento, sempre necessário (Matias Augé).

Como instrumento, o sacerdote permite ao Senhor Ressuscitado alcançar a Comunidade com a sua graça e uni-la a Si na celebração. O presidente está pois ao serviço de Cristo e da Comunidade. Ele não tem méritos ou poderes próprios, mas actua em nome de Cristo e da assembleia. Na assembleia eucarística, o presidente, presbítero ou bispo, está diante da assembleia, mas ao mesmo tempo faz parte dela; não está nem acima nem fora da assembleia, mas dentro dela. Por esta razão, também o sacerdote confessa os seus pecados; ouve, como dirigida a si, a proclamação da Palavra de Deus; diz a acção de graças e alimenta-se do corpo e do sangue do Senhor para formar um só corpo com os membros da sua comunidade.

O ministro que preside manifesta também que a assembleia não é proprietária do gesto que está a realizar: ela recebe-o de Cristo vivo na sua Igreja. Enquanto membro da assembleia, o ministro é o enviado que expressa a iniciativa de Deus e o vínculo da comunidade local com outras comunidades, através da comunhão com o Bispo. Em resumo, o presidente da celebração eucarística torna evidente a não-autonomia da assembleia eucarística e a total dependência da Igreja em relação a Cristo Senhor.

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Agência ECCLESIA

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