D. Manuel Clemente, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais D. Manuel Clemente, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, explica à Agência ECCLESIA quais as principais preocupações da Igreja Católica em Portugal, no âmbito dos Media. Agência ECCLESIA – A pastoral nos meios de comunicação social e através deles é prioritária para a Igreja Católica em Portugal? D. Manuel Clemente – Prioritário para a Igreja, é sempre evangelizar. Passando isso inevitavelmente pela comunicação social, esta tem de nos merecer de facto o que já merece por direito, ou seja, uma grande atenção pastoral. Para sermos coerentes, devemos esforçar-nos por acompanhar activamente o que nela se veicula. Não só lendo, escutando e vendo, mas dando “razões da nossa esperança”, quer pela visão evangélica das coisas quer constituindo notícia com a vida e o pensamento dos cristãos. Mas, quando falo em atenção pastoral, não me refiro apenas aos pastores da Igreja. Refiro-me aos católicos em geral, que, com as suas competências específicas, hão-de estar criativamente presentes na comunicação social, como, felizmente, já se vai verificando. A Igreja tem pastores, mas toda ela é, de algum modo, pastora do Mundo. AE – De que forma se procuram enfrentar os desenvolvimentos tecnológicos que potenciam e diversificam os meios e formas de comunicação? MC – Tem sido grande o esforço dos meios de comunicação social católicos na respectiva actualização, hoje permanente. Quer ao nível local, quer já regional e nacional de alguns dos seus órgãos. Tanto mais que contam quase exclusivamente com os relativos recursos de paróquias, movimentos, dioceses e congregações. A Agência ECCLESIA fornece a todos um serviço relevante de informação contínua. A Rádio Renascença mantém altos índices de audiência. Mas não podemos descansar, pois cada dia há algo mais a fazer e algo de novo a tentar, quer em meios quer em formação de profissionais. Neste ponto, a caridade requer alta competência. AE – Entre nós, quando e como aparece o fenómeno religioso nos media? MC – Directamente, quando se alude a qualquer caso ou manifestação. Pode ser uma grande celebração em Fátima ou um incidente ocasional e local. Mas esta curiosidade imediata, a que os meios de comunicação social respondem, quando não estimulam, vai a par com outra dimensão religiosa mais profunda, que brota constantemente nas notícias mais díspares. Há muita pergunta incipientemente formulada, muita aspiração mal definida, muita procura de sentido, que, não aparecendo confessionalmente tratadas na comunicação social, remetem directamente para a esfera religiosa. A comunicação social cristã deve estar atenta a este facto, para o discernir e iluminar. AE – A Igreja Católica deverá ter a preocupação de, entre muitas agendas, colocar ao centro a agenda mediática, de acordo com o tempo e a gramática dos media? MC – A agenda mediática, queiramos ou não, é a do nosso tempo e cultura. Na sua Mensagem para o 40º Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Bento XVI intitula os media como “rede de comunicação, comunhão e cooperação”. Essa é a nossa especial tarefa: a de construirmos uma rede que, comunicando factos e ideias, fomente a comunhão e leve à cooperação. Na verdade, nem tudo o que se comunica, na respectiva escolha e no modo de transmitir, leva à aproximação franca e à vontade de responder positivamente às mais diversas situações nacionais ou internacionais. A nossa agenda mediática é constituída em doses iguais pela caridade e pela urgência evangélicas.