Música sacra inunda Baixo Alentejo

Diálogo intercultural e cruzamento sensorial no Festival Terras sem Sombra, já na sua quarta edição A quarta edição do Festival Terras sem Sombra – Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo, vai marcar o diálogo inter cultural, pois a música é um grande elemento de ligação entre as pessoas, as comunidades, entre as culturas. Esta edição que deu os primeiros acodes no dia 15 de Dezembro e se vai estender até ao dia 29 de Março de 2008 ganha uma importante componente que é a “tolerância”, valoriza José António Falcão, Director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja – DPHA de Beja. A escolha do repertório, que assenta na qualidade musical e ligação à tradição peninsular e portuguesa, quer dar a conhecer outras culturas, outras religiões, civilizações, e outras gentes, no seu conjunto. Os objectivos de levar mais vida às igrejas e criar novos públicos, “está assegurado”. Os palcos escolhidos são igrejas históricas que têm uma “forte carga patrimonial” e que foram alvo, precisam ou estão a ser requalificadas. Os concertos são sempre precedidos de uma palestra que explica o sentido do Festival Terras sem Sombra, refere a história desse palco particular e por vezes, da localidade onde a igreja se insere, fazendo a ligação com a música, pois o repertório escolhido para cada igreja “reflecte sempre de forma directa a realidade patrimonial desse local”, sustenta José António Falcão. As igrejas, mesmo as que não estão abertas para efeitos de culto, “têm sempre uma alma própria e uma espiritualidade sempre presente”. Daí o cuidado com a escolha musical, onde o respeito pelo público e pelo local estão sempre assegurados. Sendo um Festival que quer valorizar a música sacra, “não há melhor sítio para a executar, do que nas igrejas, no seu espaço de celebração”. O próximo passo é, através da música e do património, “aproveitar para reflectir em outras temáticas”. Hoje é essencial, abordar o diálogo inter cultural. Esta é “ainda uma lacuna em Portugal”, explica o director do DPHA de Beja . A quarta edição do Festival vai apresentar uma abordagem às três religiões do Livro – Cristianismo, Judaísmo e Islão, numa perspectiva ecuménica de valorização das tradições. Dentro do património religioso cristão, apresentam-se novas formas de o aprender, não se limitando à musica da igreja católica, mas viajando pela música ortodoxa ou protestante. O diálogo entre o Norte e o Sul e o Oriente e Ocidente também não está esquecido. A mostra de peças vindas do Oriente – Bulgária, Rússia e Grécia, é disso exemplo, assim como a música vinda de África e do Brasil. Um cruzamento sensorial que vai muito além do auditivo, até porque grande parte do património religioso da diocese reflecte a ligação a “outras culturas e continentes” – igrejas que foram antigas mesquitas. Não se trata de uma mostra exótica ou diferente, mas a ir ao encontro das “raízes perdidas no espaço ou no tempo”. O objectivo do Festival Terras sem Sombra pretende dar nova vida a um conjunto de monumentos importantes, “e quer que as pessoas, cada vez mais, através da cultura possam aproximar-se da diferença”. O Festival tem apostado e conseguido novos públicos, que na sua quarta edição é já um público “fidelizado”. Os espectáculos contam “geralmente” com casa cheia, mesmo em “igrejas de grande dimensão”. Significa que centenas de pessoas “acorrem a ver estas propostas”. A região alentejana, fora dos circuitos e roteiros culturais, “está a criar hábitos”, que passam pela existência de ciclos culturais, como é o caso do Festival Terras sem Sombra, que estão implantados no terreno. A somar aos habitantes locais, esta iniciativa vai contando com inúmeros aderentes de outros pontos do país – Coimbra, Lisboa, Porto, Faro, mas também de Sevilha, Huelva ou outras localidades espanholas.

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