Músico e fundador do grupo Simplus entende a arte, «qualquer arte», como a «oração mais profunda», recorda o seu percurso musical e apresenta «Banquete», o trabalho musical que afirma que a «mesa, o altar» está sempre posto para todos
Lisboa, 14 ago 2024 (Ecclesia) – O músico Luís Roquette, fundador do grupo Simplus, diz que são necessários poetas que cantem a espiritualidade, “para lá das realidades, das paixões, das construções humanas”.
“Precisamos de uma entidade que nos inspire para falarmos das realidades, não só terrenas, não só dos afetos, não só das paixões, não só das construções humanas. Nós não somos só feitos de construções humanas e, portanto, é muito importante essa realidade (espiritual) cantada, musical também, artística”, conta à Agência ECCLESIA.
“Cada pessoa tem uma pergunta. A sua pergunta – Quem sou eu? Porquê é que eu existo? Porquê é que eu faço isto, porquê é que eu faço este caminho? Será que existe vida para além da morte? Há uma pergunta inerente em cada um e que nos faz brilhar ou deixar que brilhe uma luz que venha dessa realidade. Há uns que evidenciam mais Deus, há outros que evidenciam a natureza, há outros que evidenciam o universo, os planetas e os signos, e há outros que são mais humanistas, ou iluministas. O objetivo é, perante uma vida vivida, os acontecimentos serem postos à luz dessa pergunta”, explica.
Foi há cerca de 20 anos que Luís Roquette fundou, juntamente com a prima Maria Durão, o grupo Simplus, mas as inspirações musicais começaram cedo na vida do jovem que ainda decidiu estudar Design de Equipamentos, na Faculdade de Belas Artes, mas após meia hora da frequência na primeira aula, levantou-se e desistiu.
“Na altura vivia na sombra de ter de tirar um curso que fosse minimamente aceitável. Fui para Design de Equipamento nas Belas Artes, mas na primeira aula – Introdução à Fotografia – eu sentia fisicamente alguma coisa que me deixava inquieto, que me dizia que não era por ali. Levantei-me e saí”, recorda.
Seguiu-se a formação no Hot Club de Portugal, onde explorou sons, instrumentos, improvisos, mas indica, que o fado e a “estética dos anos 50 e 60” do século XX são um dos seus contextos eleitos.
“O fado antigo que vem dos artistas como Carlos Ramos, a Maria Teresa de Noronha, a Amália, Frei Hermano da Câmara, o João Ferreira Rosa, na altura, não só artisticamente, mas também as pessoas daquela geração diziam-me alguma coisa. Quando eu era novo, aí com 15 ou 16 anos, já sentia interesse em saber porquê que aquelas pessoas daquela geração cantavam, qual é que era o gosto delas pela arte, porquê que gostavam de poemas, porquê que gostavam de sentir a música, e dava até mais valor a isso do que aos artistas novos, muito ‘cool’ e muito irreverentes da minha época”, conta.
A Bíblia, a participação na Eucaristia, “tantas vezes durante a semana para escutar o silêncio e observar as pessoas”, são inspirações que têm pautado as suas composições.
“Não sinto de grande necessidade de falar daquilo que me acontece amorosamente – o estar muito apaixonado. A necessidade de escrever, de compor e de mostrar aos outros é mais uma luz que vem de fora e que vai passando por mim e volta a sair”, explica.
Com o seu último trabalho «Banquete», Luís Roquette assume a certeza de que a mesa “está posta para todos”.
“Foi numa missa que me dei conta o quão importante é este sacramento. A pessoa pode não estar casada, pode não estar na ordem, pode até não estar confessada, pode não ter os outros sacramentos, mas tem todos os dias o sacramento da Eucaristia a acontecer. A mesa, o altar está posto. O banquete acontece todos os dias”, apresenta.
Em conversa com o programa ECCLESIA, Luís Roquette explica que a arte, “qualquer arte” é para uma “oração profunda”.
“A arte é a oração no pulsar mais brilhante do ser humano. Porque uma pessoa pode ser artista e não ser especificamente religioso, mas a forma como ele faz arte, como ele se abre a essa realidade é tão forte que às vezes até é mais forte do que uma vida religiosa”, acredita.
A conversa com Luís Roquette pode ser acompanhada esta noite na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e fica disponível no portal de informação da Agência ECCLESIA e no podcast «Alarga a tua tenda».
LS