Mundo em mudança exige novas paróquias

Colóquio Europeu reúne duzentos participantes para debater os caminhos da Igreja na sociedade em mutação A paróquia, tal como vem sendo concebida ao longo do tempo, tem de reencontrar-se numa sociedade moderna cada vez mais urbana e mergulhada num pluralismo religioso. O alerta é dado pelos participantes no Colóquio Europeu de Paróquias (CEP), que se realiza no Porto, de 8 a 12 de Julho. A iniciativa acolhe, na Casa Diocesana de Vilar, cerca de duzentos participantes de 18 países da Europa, incluindo alguns da Europa de Leste, e propõe-se reflectir sobre o compromisso exigido aos cristãos pela cultura actual. “Habitar cristãmente o nosso tempo” é o tema escolhido, abordado por especialistas na área teológica, procurando descobrir novas linguagens para ir ao encontro dos desafios actuais. Gaspar Mora, padre e professor na Faculdade de Teologia da Catalunha, refere ao Programa ECCLESIA que “a paróquia muda porque há mudança na sociedade, no ambiente, no clima cultural e na experiência religiosa”. A paróquia, assinala, deve ser “lugar da vida e da missão cristã” num mundo “secularizado e muito plural”. Luca Bressan, padre e professor na Faculdade de Teologia de Milão, fala das “mudanças que estão a acontecer na Igreja”, destacando a “descoberta” do lugar dos leigos no seu seio, e as mudanças culturais que levam a Igreja a não querer “ditar” respostas à sociedade. Alphonse Borras, vigário geral da diocese de Liège (Bélgica), acompanhou a reflexão dos participantes que vieram de toda a Europa e afasta a ideia de uma paróquia que se limite a ser “um clube que tem por função responder às necessidades religiosas das pessoas”. O Delegado Nacional dos Colóquios Europeus de Paróquias, Pe. José Manuel Pereira, considera que “hoje as paróquias não podem oferecer respostas que ofereciam há 30/40 anos atrás”, perante um mundo em enorme mobilidade. Este responsável destacou que dois terços dos participantes no Colóquio do Porto são leigos, dado que considerou “muito importante”. Desafios Na sessão da noite do dia 10 de Julho, segundo dia do Colóquio, registaram-se as intervenções de Manuela Silva, professora universitária e actual Presidente da Comissão nacional Justiça e Paz, e de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto. Manuel Silva, que subordinou a sua intervenção ao tema do Colóquio, propôs quatro desafios à acção dos cristãos, através da acção das organizações paroquiais: 1) Enfrentar com esperança as perplexidades do nosso tempo; 2) Ultrapassar a visão ilusória de uma “felicidade paradoxal”; 3) Prevenir a exclusão social e recuperar a pobreza; 4) Afirmar e praticar a solidariedade e o primado do bem comum. Entre os aspectos salientados pela oradora ressaltam a emergência da globalização, a procura de uma repartição mais justa das riquezas, contrariando a exclusão social e a emergência da pobreza, a degradação dos direitos dos trabalhadores, a ultrapassagem do respeito pelos direitos humanos e a perda da identidade cultural das populações. A “ilusória felicidade paradoxal” resulta de uma “civilização do desejo” produzido e inventado pela estratégia capitalista, criando necessidades artificiais: há que procurar formas de superar esta dependência. Afirmou que “é possível erradicar a pobreza” e importa assegurar uma rede de solidariedade, através do primado do bem comum sobre os interesses individuais. Por sua vez, D. Manuel Clemente recordou os pontos da sua recente nota pastoral, dando conta da situação e planos de acção para a diocese do Porto. “Um olhar feito de muitos olhares”, como se fosse uma espécie de “sínodo diocesano” em múltiplas manifestações, como considerou. Entre os planos propostos salientou a revitalização do Diaconado permanente, o recurso a uma maior responsabilização e acção dos leigos e a criação do que chamou “uma fantasia da caridade e da pastoral”. “Fantasia da caridade” é uma expressão e proposta de Bento XVI para a acção da Igreja neste tempo; “fantasia da pastoral” é expressão do Bispo do Porto no sentido de renovar a acção da Igreja. O Colóquio termina hoje, dia 12, com a apresentação das conclusões. Têm-se registado exposições de vários peritos e sobretudo reflexões em grupo sobre os temas apresentados. Os participantes estabeleceram também contacto com diversas paróquias da diocese, com as suas estruturas e iniciativas. Entre os participantes encontram pessoas vindas de Espanha, França, Bélgica, Alemanha e outros países europeus, e também da Rússia e da Índia, bem como a presença de observadores anglicanos. (Com Voz Portucalense)

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Agência ECCLESIA

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