Irei, esta semana e na seguinte, apresentar uma leitura à mensagem que o Papa Francisco publicou para o dia mundial das comunicações sociais intitulada “Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo“, que este ano se celebra a 8 de maio. Quase todos os parágrafos são dignos de serem destacados e refletidos ponto por ponto. Foi este exercício que fiz e que passo a apresentar. É meu objetivo que esta reflexão sirva para melhor aprofundar a riqueza do texto lançado no dia 22 de janeiro.
A mensagem começa logo por apresentar a justificação de se falar sobre misericórdia num texto que eminentemente aborda a questão da comunicação. E a razão é muito simples: estamos a viver o Ano Santo da Misericórdia que nos convida “a refletir sobre a relação entre a comunicação e a misericórdia”! Por isso tudo “aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos”. Se esta compaixão é sinal de amor, então “o amor, por sua natureza, é comunicação: leva a abrir-se, não se isolando”. Mais forte ainda se torna essa nossa comunicação, “se o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor divino”.
De seguida, somos chamados a comunicar com todos sem exceção, pois “como filhos de Deus, somos chamados a comunicar com todos, sem exclusão” (…) “para que Jesus seja conhecido e amado”.
Por outro lado o papa Francisco chama a atenção para o poder da comunicação, à semelhança do que já fez em mensagens anteriores. Pois as “palavras e ações hão-de ser tais que nos ajudem a sair dos círculos viciosos de condenações e vinganças que mantêm prisioneiros os indivíduos e as nações, expressando-se através de mensagens de ódio”. E é aqui é lançada a primeira ponte para o contexto digital, quando é afirmado que “isto acontece tanto no ambiente físico como no digital”, sendo que “a palavra do cristão visa fazer crescer a comunhão e, mesmo quando deve com firmeza condenar o mal, procura não romper jamais o relacionamento e a comunicação”.
Um facto interessante e que me chamou a atenção particularmente foi a frase de Shakespeare que é citada: «A misericórdia não é uma obrigação. Desce do céu como o refrigério da chuva sobre a terra. É uma dupla bênção: abençoa quem a dá e quem a recebe» (O mercador de Veneza, Acto IV, Cena I). Portanto ” a misericórdia é capaz de implementar um novo modo de falar e dialogar”.
No início do sexto parágrafo é chamada a atenção para o poder da comunicação e é-nos pedido que nunca se deve expressar “orgulho soberbo do triunfo sobre um inimigo”, nem humilhar “aqueles que a mentalidade do mundo considera perdedores e descartáveis”. Portanto a forma e o estilo da nossa comunicação deve ser “capaz de superar a lógica que separa nitidamente os pecadores dos justos”. Sendo certo que “podemos e devemos julgar situações de pecado – violência, corrupção, exploração, etc. –, mas não podemos julgar as pessoas, porque só Deus pode ler profundamente no coração delas”. Porque “só palavras pronunciadas com amor e acompanhadas por mansidão e misericórdia tocam os nossos corações de pecadores. Palavras e gestos duros ou moralistas correm o risco de alienar ainda mais aqueles que queríamos levar à conversão e à liberdade, reforçando o seu sentido de negação e defesa”.
Fernando Cassola Marques
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