Na passada semana apresentei a primeira parte da minha leitura à mensagem que o Papa Francisco publicou para o dia mundial das comunicações sociais intitulada “Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo“. Esta semana fica a segunda parte dessa reflexão.
A sociedade em geral pode pensar que é utópica a vivência em comunidade enraizada na misericórdia, mas, e aí o papa Francisco utiliza esta comparação várias vezes, somo convidados a pensar nas “nossas primeiras experiências de relação no seio da família”. Os Pais amam-nos e apreciam-nos “mais pelo que somos do que pelas nossas capacidades e os nossos sucessos”, portanto “a casa paterna é o lugar onde sempre és bem-vindo (cf. Lc 15, 11-32)”. Então façamos da sociedade “uma casa ou uma família onde a porta está sempre aberta e se procura aceitar uns aos outros”.
Para que tudo isto que até aqui surta efeito e faça sentido temos de saber escutar. Porque “escutar é muito mais do que ouvir”. Se por um lado ouvir “diz respeito ao âmbito da informação, escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade”. Para escutarmos teremos de ser capazes de “partilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado”, colocando-nos numa posição de humildade colocando “as próprias capacidades e dons ao serviço do bem comum”.
O bispo de Roma reconhece que escutar nunca é fácil e portanto por vezes será mais fácil fingirmo-nos surdos. Isto porque “escutar significa prestar atenção, ter desejo de compreender, dar valor, respeitar, guardar a palavra alheia” e nesta ação de escuta, poderemos mesmo tirar uma leitura teológica, nesta escuta “consuma-se uma espécie de martírio, um sacrifício de nós mesmos em que se renova o gesto sacro realizado por Moisés diante da sarça-ardente: descalçar as sandálias na «terra santa» do encontro com o outro que me fala (cf. Ex 3, 5)”.
Quase a terminar entramos no cume da mensagem olhando agora para os meios de comunicação digital. Uma primeira ideia a retirar é a de que os “e-mails, sms, redes sociais, chat podem ser formas de comunicação plenamente humanas”, porque “não é a tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração do homem e a sua capacidade de fazer bom uso dos meios ao seu dispor”. Por outro lado, “o ambiente digital é uma praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral”, portanto em rede e na rede “também se constrói uma verdadeira cidadania” e que ela “pode ser bem utilizada para fazer crescer uma sociedade sadia e aberta à partilha”.
Esta mensagem termina da mesma forma que começa, relacionando este encontro entre comunicação e misericórdia. Essa relação será fecunda “na medida em que gerar uma proximidade que cuida, conforta, cura, acompanha e faz festa”. Porque “num mundo dividido, fragmentado, polarizado, comunicar com misericórdia significa contribuir para a boa, livre e solidária proximidade entre os filhos de Deus e irmãos em humanidade”.
Fernando Cassola Marques
fernandocassola@gmail.com