Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz apresenta propostas para a transformação social
A actual conjuntura económica nacional, provocada por um sistema cada vez mais baseado numa política de endividamento, só poderá ser resolvida através de “um vasto consenso político”, defende Alfredo Bruto da Costa, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP).
Para este responsável, se isso não acontecer, Portugal entrará num clima de instabilidade, “com inconvenientes junto dos mercados financeiros”.
A recente aprovação do Orçamento de Estado é vista por Bruto da Costa como um passo indispensável mas insuficiente para um entendimento que se pretende mais duradouro.
“Não haja dúvida, depois de toda esta acalmia necessária, há alterações estruturais a introduzir, quer ao nível nacional quer a nível europeu ou internacional”, sublinha, em declarações à ECCLESIA.
O “Desafio da Mudança Urgente – Caridade, Verdade e uma Encíclica” é o tema da Conferência que a Comissão e a Faculdade de Teologia da Universidade Católica vão realizar este Sábado, dia 20 de Novembro.
[[v,d,1622,Propostas para a transformação social e económica da CNJP apresentadas por Alfredo Bruto da Costa.]]Apesar de muitas vezes esquecida, até pelos próprios cristãos, a Doutrina Social da Igreja tem uma importante palavra a dizer na procura de soluções para a crise que Portugal e o resto do mundo atravessam.
Na iniciativa, pretende-se abordar a última encíclica do Papa, que, de acordo com o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, pode funcionar como um guia fundamental para cristãos e não cristãos, na identificação de problemas e na projecção de soluções.
O lugar da ética na economia e no mercado e a necessidade de construção de uma nova cultura empresarial, que arranje espaço para iniciativas com fins mutualistas e sociais, serão outros temas abordados no Seminário que, para além de Bruto da Costa, contará com a participação de Manuel Braga da Cruz, Roberto Carneiro, João Salgueiro ou D. Carlos Azevedo, entre outros intervenientes.
O presidente da CNJP vê na falta de regulação dos mercados, em estado “quase selvagem”, uma das grandes explicações para a crise mundial.
É neste contexto de ruptura que a encíclica “Caritas in Veritate”, de Bento XVI, ganha importância para a CNJP, porque retoma e sumariza conceitos essenciais que podem contribuir para a construção de um novo paradigma económico, social e humano.
Um desses conceitos, de acordo com Bruto da Costa, é o Bem Comum, que “apesar de ser uma noção chave, poucos lhe dão a importância que merece, enquanto conceito e princípio fundamental da doutrina da Igreja”.
Se foi inicialmente pensado para uma escala nacional, “hoje importa pensar no que significa o bem comum à escala global”, acrescenta ainda.
Outra ideia que importa dar relevo, é a noção presente na Encíclica do Papa de que “a acção do homem sobre a terra, quando inspirada e sustentada pela caridade, contribui para a edificação daquela cidade universal de Deus que é a meta para onde caminha a história da família humana” (Caritas in Veritate, n.º 7).
Para o presidente da CNJP, “é preciso que a noção de construir a cidade de Deus esteja ligada à construção da cidade dos homens e que façam parte da nossa perspectiva”.
A conferência realiza-se no Anfiteatro 2 da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, das 9 às 18 horas, com entrada livre.