O desemprego e a falta de liderança são, para D. Carlos Azevedo, Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social, pontos nevrálgicos que pedem a mudança de paradigmas sociais capazes de influenciarem os modelos de desenvolvimento económico e político.
Presente no Seminário sobre «Crise Ética na Política e Economia», a decorrer em Lisboa, o também bispo auxiliar de Lisboa, explicou à Agência ECCLESIA que "se encontrarmos decisões políticas que permitam às pessoas ter estabilidade para a sobrevivência económica, que chega precisamente do trabalho, iremos encontrar o bem estar social". No entanto, adverte, esta conquista de bem estar não será igual. "Exige renúncias, sobriedade e austeridade".
Os decisores políticos e económicos "necessitam desta reflexão para organizarem modos alternativos, que conduzam a uma economia social, coerente e reguladora".
D. Carlos Azevedo afirma que cada um tem de ser responsável por alterar os comportamentos no seu quadro de acção. "Nas suas empresas, no seu partido, na sua associação, no que depende de cada um, ter responsabilidade".
"A ética da responsabilidade pessoal é fundamental para termos uma responsabilidade social", pois só assim, "e a começar pelos políticos, agiremos de forma diferente".
O grande perigo da liderança, segundo D. Carlos, "visível na política", é o imediato das soluções. O bispo auxiliar pede que as medidas sejam vistas "para lá do êxito", tanto na economia como na política. "O êxito imediato tem prejudicado o bem comum".
A ética tem de estar presente nos sonhos e nas utopias, para alcançar o bem comum, apela o Bispo. "Deve estar presente na realização e nas finalidades". As decisões imediatas devem ser "pesadas para a construção do futuro", seja no contexto político ou económico.
O seminário que decorre em Lisboa, organizado pela Comissão Nacional Justiça e Paz, tem como pano de fundo a Encíclia «Caritas in veritate» (Caridade na verdade), que o Vaticano vai publicar na próxima Terça-feira. O bispo auxiliar de Lisboa afirma que "a globalização, o mundo do trabalho, a ecologia pede novos paradigmas" que Bento XVI fará com uma "lufada de rigor e reflexão, de racionalidade ética e de perspectivas novas para construir um mundo diferente".
Reflectir sobre a Crise Ética na Política e na Economia é, para D. Carlos Azevedo mais um exemplo de pedagogia social. Depois do Simpósio «Reinventar a Solidariedade (em tempo de crise)», em Maio, e das Jornadas Pastorais do Episcopado, em Junho, a CNJP quis reflectir sobre as causas da crise.
A CNJP tem uma missão que corresponde a essa vertente. D. Carlos afirma que chamar a atenção das pessoas e das comunidades para novos comportamentos, implica "ajudá-las a perceber porque é que chegámos a esta situação. E aqui devemos conhecer as causas e os caminhos".
Se a análise da situação actual "vai sendo feita", faltava "perceber causas e abrir janelas que nos permita respirar mas também encontrar caminhos que devemos percorrer". Para que a pedagogia social funcione é preciso que "o trabalho que decorre com pessoas mais esclarecidas, chegue, posteriormente, a um grupo mais alargado". Este deverá ser o trabalho das comissões diocesanas justiça e paz, ou mesmo grupos paroquiais que possam ajudar a reflexão.