Movimento Católico de Estudantes procura espaço de intervenção no meio escolar

Jovens estudantes manifestam-se contra a «exclusiva educação formal»

Na semana do início do ano escolar, o programa Ecclesia entrevistou os responsáveis pelo Movimento Católico de Estudantes (MCE). Com 29 anos de vida, este movimento, assente no método de revisão de vida da Acção Católica (ver, julgar e agir), procura intervir no âmbito escolar e está atento ao que se passa na área do ensino em Portugal.

A sua acção passa essencialmente por equipas de base que reúnem entre cinco a 10 elementos e que, todas as semanas, “procuram reflectir sobre o meio que os rodeia, essencialmente a escola e também a Igreja”, indica Francisco Aguiar, ex-coordenador nacional do MEC.

A intervenção é feita de várias formas. O agir pessoal é o primeiro passo. “Depois através de actividades que promovemos, debates, projecção de filmes, sessões de esclarecimento, interpelação para diferentes aspectos”, traduz Francisco Aguiar.

O MCE tem uma acção distinta de uma associação de estudantes. “O cariz católico que temos confere uma abordagem diferente”, defende Luísa Machado, que integra a Comissão de preparação do X Jornadas de Universitários Católicos.

“O nosso objectivo é sermos desinstaladores do meio e provocar o questionamento de entre colegas. Não no sentido reivindicativo, mas percebendo o que podemos fazer para melhorar o sítio onde estamos”.

Melhorar o ensino, melhorar a relação entre alunos e professores, como elevar a formação desempenhando um papel activo são alguns dos objectivos e preocupações do MCE que prolonga a sua acção ao ensino superior. Sendo um espaço maior, “a possibilidade de convidar outros a repensar o ensino, são também maiores”, explica Luísa Machado.

Marcelo Duarte é coordenador nacional do sector do ensino superior do MCE e foi já no ensino universitário que se tornou militante. Marcelo destaca a influência do movimento na sua forma de pensar. “Até à faculdade não tinha um olhar tão crítico e nítido sobre a sociedade e os problemas que nos envolvem”.

Moção para melhorar a educação
O MEC esteve, em Agosto, reunido no XXX Conselho Nacional e centrou-se no distanciamento entre os militantes e as escolas. O Conselho fez aprovar uma moção que tem por objectivo “alertar para a necessidade de uma maior acção nas escolas”.

“A educação está a caminhar para uma condição claustrofóbica”, apresentam os estudantes na moção.

Marcelo Duarte aponta que a educação tem-se “resumido ao espaço escola”, facto que aponta como “limitativo”. Os pais, a família, os movimentos também devem ser espaços educativos, acrescenta.

Francisco Aguiar regista uma apatia na comunidade educativa por aparte dos vários agentes. “Os alunos procuram pouco o espaço público para falar, os pais têm uma vida sobrecarregada e tem pouco tempo para estar com os filhos”. Os alunos passam um dia inteiro na escola, sintoma que mostra a “claustrofobia que os alunos vivem, confinados a um único espaço”, desenvolve.

O MCE pede que o espaço educativo não se reduza à educação formal. “Os movimentos e as associações precisam de espaço e de apoios para que possam cumprir o seu trabalho e objectivo educacional”, refere o ex-coordenador nacional.

A ausência dos pais é também apontada pelo movimento. “Os pais desresponsabilizam-se do papel educativo e remetem-no para a escola”, condena Luísa Machado. É importante a formação de valores, acrescenta. “Fala-se de crise de valores sem se saber quem é o responsável pela educação para os valores”.

O MCE propõe que a educação para os valores tenha “um espaço avaliativo”. Marcelo Duarte aponta que esta matéria é “já alvo de avaliação, visível no comportamento, na participação cívica”, mas indica, ser preciso ir mais longe, nomeadamente “através da avaliação à disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica ou de outras confissões, mas que esta tenha peso na avaliação do aluno”. 

A moção, discutida no XXX Conselho Nacional, pretendia perceber o estado da educação em Portugal, incluindo a análise do papel que o Estado tem desempenhado nesta área. “O facilitismo educacional e a mera transmissão de conhecimentos não forma o ser humano, enquanto ser crítico e pensante”, denuncia Francisco Aguiar.

O MCE defende na moção “a transmissão de valores que aposte na capacidade de as pessoas tomarem decisões correctas com base numa reflexão”.

Os professores também são chamados a “não se desresponsabilizar, pois são peças fundamentais”, em especial, “quando se sente um abrandamento da exigência educativa”, indica Francisco Aguiar.

Marcelo Duarte explica que também os professores são chamados a reflectir sobre a forma como ensinam e transmitem conhecimento. “O ensino da utilidade e a formação apenas serve uma classe profissional de forma mais estrita e não se abre a uma formação mais ampla”.

Francisco Aguiar afirma desejarem um projecto comum e bem definido para a educação em Portugal.

“Que seja feita uma reflexão profunda e que não se abdique disso. Que esse plano conjugue uma análise dos últimos anos e das últimas reformas que existiram e que a partir daqui se possa construir um melhor futuro para os próprios alunos”.

O MCE aposta na promoção de espaços de debate. Para isso, está a organizar as Jornadas de Universitários Católicos dirigidas não só aos militantes do MCE mas a toda a comunidade escolar. O encontro vai decorrer no Porto nos dias 19, 20 e 21 de Março.

O objectivo é perceber o que há em comum “entre nós que somos Igreja, que somos estudantes universitários, mas somos sociedade também e é importante pensar nessa relação para repensar o lugar da universidade”, aponta Luísa Machado.

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Agência ECCLESIA

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