Capelão do Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, fala do acompanhamento de pacientes, de diferentes idades, pais e famílias, num local onde as pessoas aravessam a morte e o luto na procura de saúde e esperança

Lisboa, 29 out 2025 (Ecclesia) – O padre Custódio Langane disse que ser capelão do Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, o tem ensinado ser “o amor” a dar “sentido à vida” e que, “sendo um local de dor”, no IPO se respira “vida”.
“A minha experiência no IPO é que o amor cura, o amor transforma, e o amor dá sentido à vida. O IPO é uma escola de vida e de fé. Ensina-nos que o que importa não é o tempo de vida que temos, mas é a qualidade do amor que colocamos na nossa vida. E se nós amamos até o fim, a nossa vida tem um sentido”, explica à Agência ECCLESIA.
Foi em 2019 que o padre Custódio entrou pela primeira vez, e foi na ala da Pediatria que lhe elogiaram primeiro o sorriso.
“Quando entro no quarto de um doente, eu sinto que é um lugar do silêncio. O silêncio onde se escuta a dor e o sofrimento da pessoa. Quando entro no quarto, eu entendo que é ali um lugar onde a verdade da condição humana é revelada”, conta.
O sacerdote explica “usar três ferramentas” para estar com as pessoas.
“A capacidade de escutar o que o doente diz e aquilo que não diz – escutar a sua dor, o seu sofrimento, o medo, a sua angústia, escutar também os porquês. A segunda ferramenta é a compaixão – eu colocar-me no lugar do doente, sentir o que o doente sente para ajudar a encontrar ferramentas para gerir a sua doença, dar nome à sua dor, dar significados à vida e até à morte. A terceira ferramenta é a presença, estar sem tempo. Às vezes, num dia, escuto três pacientes e saio muito feliz por ter tido esse tempo”, conta.
O sacerdote explica que a vida de cada pessoa é feita de “muitos lutos” e de muitos “nascimentos”.
“Os doentes, em especial quando entram nos cuidados paliativos, têm sempre uma esperança, que é a esperança da cura. Quando não se curam, fazem o luto desta esperança, que não se concretizou, mas depois esta esperança também vai amadurecendo. E esta esperança torna-se um fortalecer interior. Ajudar a pessoa a nomear a sua dor, a dar significado à sua dor, a nomear a morte, a dar significado à morte do filho ou da filha, ou do pai ou do irmão, a dizer-nos o que sente, esta pessoa, no fundo, vai fazendo um caminho de cura interior”, indica.
O padre Custódio lembra que uma mãe lhe afirmou encontrar na pediatria do IPO “um lugar onde se vive muita dor, onde cheira a morte”, mas “onde se respira muita vida e muito amor”.
“É o amor que vemos também nos profissionais de saúde. Há muita humanização do serviço, os próprios doentes verbalizam isso, mesmo aqueles que os familiares partiram – ‘O meu filho partiu, mas foi cuidado com humanização, foi muito amado’. Isto também cura”, acrescenta.
O sacerdote, natural da aldeia de Bilene, na diocese de Xai Xai, em Moçambique, afirma encontrar na sua história pessoal a certeza de que as memórias são importantes para o processo de luto e recorda ter perdido a sua mãe aos dois anos de vida, mas nunca se ter sentido órfão.
“Tinha muita gente que me ensinou a amar e a sentir-me amado. Sou daquelas crianças que não soube o que é ser órfão. Só aos 13 anos fui à procura da memória da minha mãe: vi fotografias, quis conhecer a sua terra natal, o seu local de sepultamento, li os seus livros, e comecei a construir uma relação com a minha mãe, uma relação de memórias sobre as fotografias que eu via, através das músicas que ela ouvia, do que o meu pai me dizia. E hoje falo com ela. Muitas vezes, quando me sinto triste ou num dilema, eu digo, ‘tu que estás aí diante de Deus, ilumina-me’”, conta.
O padre Custódio diz ter encontrado o seu lugar ao contactar com a Obra de Rua, do padre Américo em Moçambique, e afirma ter-se ordenado padre para estar juntos dos mais fragilizados e tentar dar esperança às pessoas.
“Sempre que vou ao quarto de um doente, eu entro num lugar sagrado. Eu vou ali tocar Jesus na pessoa fragilizada. E, muitas das vezes, não falo de Deus, mas a minha forma de me aproximar, a forma de escutar, a forma de compaixão e de mostrar amor, faz com que Deus toque o coração e se faça presente na vida daquele doente”, traduz.
A conversa com o padre Custódio Langane, as suas origens e percurso até à chegada em 2007 a Portugal, pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA, com emissão na Antena 1 após a meia-noite, e disponibilizado no podcast «Alarga a tua tenda».
LS
