Jovem de 23 anos é autora da página «Já não mora aqui» e mentora do grupo de partilha «Ainda estamos aqui», dirigido a jovens entre os 16 e os 25 anos

Lisboa, 22 de out 2025 (Ecclesia) – Maria Conde, autora da página na rede social ‘Instagram’ «Já não Mora Aqui», disse hoje que a morte abre um tempo de «porquê», centrado não apenas no acontecimento da perda mas no sentido da vida e na opção de prioridades.
“As prioridades de vida mudaram drasticamente com a morte do meu pai. Eu só tinha 21 anos e de um dia para o outro a vida é abalada por novas perguntas, quer para acompanhar a pessoa que passa por uma doença, mas também relativas à nossa vulnerabilidade. Passo a questionar sobre o que me vai preencher depois do luto, sobre o sentido a dar à minha vida depois de ter este testemunho de amor gigante”, explica à Agência ECCLESIA.
Maria Conde, hoje com 23 anos, foi cuidadora do seu pai a partir do momento em que lhe foi diagnosticado um cancro até ao momento da sua morte, seis meses depois.
“Eu sou católica e acredito que o céu existe, que o meu pai também está lá. É uma ideia que me consola saber que a vida não acaba aqui, e que no dia em que morremos começa uma nova vida, mas às vezes é muito difícil entender o vazio e o silêncio. Precisava que o céu fosse um bocadinho mais perto da terra”, conta.
A jovem diz que o “maior medo” que tem é “esquecer” e procura “valorizar” o processo pelo qual passou, que entende ter deixado marcas de empatia, de proximidade e de critério nas relações.
“O meu pai era uma pessoa espetacular; se calhar foi preciso demasiado tempo para eu perceber isso – o seu testemunho de perseverança e de esperança. Sinto que agora tenho a missão de pegar nisto que aconteceu e levá-lo aos outros, procurar que as pessoas se sintam menos sozinhas, que o cancro passe a ser um tema discutido e que a empatia e sensibilidade, que eu acho que se está a perder, voltem e que estejam no centro”, explica.
Meses depois de o seu pai falecer, Maria Conde criou uma página na rede social instagram «Já não mora aqui», onde partilha textos que escreveu quando era cuidadora, “para não esquecer e organizar ideias”, e onde procura que o luto que continua a fazer seja realizado de forma acompanhada.
“À medida que ia avançando no caminho e a solidão ia sendo cada vez maior, porque eu tinha dificuldade em falar com amigos sobre o processo, sentia também que tudo isto tinha de ter um propósito”, recorda.
Maria criou um “espaço de partilha” segura, onde testemunhos e histórias pessoais se encontram – em partilhas de tom azul, Maria escreve sobre o seu testemunho; com tons de amarelo, a autora partilha mensagens “de igual para igual com quem está a passar pelo mesmo”; os textos em tom verde “são direcionados a sensibilizar à sociedade para os temas do cancro” e a cor lilás “relaciona-se com o luto”.
“Senti que a maioria dos testemunhos que eu recebia eram de pessoas cuja doença, muitas vezes, conduzia à morte dos pacientes, e que fazia sentido partilhar o caminho de luto”, sublinha.
No processo de acompanhamento da doença, que durou seis meses, e no luto que teve início em dezembro de 2023, Maria percebeu que “o amor e a dor são faces da mesma moeda”.
“Foi algo que eu percebi logo no início da doença, mas que à medida que o tempo passa, e com a página «Já não mora aqui», é mais notório. Quando gostamos de alguém, e quanto mais construímos essa relação, o amor é cada vez mais forte. E portanto, invariavelmente, se acontece alguma coisa a essa pessoa, ou a essa relação, a dor vai ser proporcional. Portanto, quanto mais eu gosto, mais eu sofro. Mas ao mesmo tempo posso olhar ao contrário. Quanto mais eu sofro, mais eu gosto. Também no luto, importa virar a moeda para a face correta”, explica.
A página «Já não mora aqui» abre agora espaço para um grupo de partilha «Ainda estamos aqui», dirigida a jovens entre os 16 e os 25 anos, onde se pretende que a escuta, companhia e partilha de experiências sobre a doença a formas de viver o luto possam aproximar pessoas.
A conversa com Maria Conde pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA, emitido na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e no podcast «Alarga a tua tenda».
LS