Monopólio do Estado no sistema educativo

D. Maurílio de Gouveia lamenta saída das Irmãs Salesianas e condena manifestações de «autoritarismo» No ano de 1940 o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (Irmãs Salesianas) estabelecia uma comunidade na cidade de Évora, respondendo ao pedido formulado pelo Prelado Eborense, o Servo de Deus D. Manuel Mendes da Conceição Santos. As referidas Irmãs, pertencentes a uma das mais prestigiadas instituições de educação católica, com significativa presença nos diversos continentes, veio assumir a responsabilidade da secção feminina da Casa Pia de Évora, sedeada no Convento Novo. Já lá vão quase sete décadas que aquelas distintas educadoras vêm prestando um relevante serviço às crianças e adolescentes em situação especial, com carências, tantas vezes com traumas, vítimas de conflitos familiares, de injustiças e anomalias sociais. Toda a comunidade eborense reconhece o excelente trabalho educativo realizado pelas Irmãs Salesianas junto dum sector frágil, difícil e pobre da juventude. É igualmente de realçar o trabalho catequético notável que sempre desenvolveram em algumas paróquias da cidade. Importa ainda referir que a sua presença no Convento Novo resulta dum acordo com o Instituto da Segurança Social. Pois não obstante o seu modelar comportamento na área educativa e social, mantido ininterruptamente durante tantos anos, as Filhas de Maria Auxiliadora deixaram, no fim do mês de Julho, de estar à frente daquela instituição. A notícia foi recebida com surpresa e com mágoa. Mágoa, porque Évora fica empobrecida. Mágoa ainda, porque a Igreja se vê privada de uma comunidade de educadoras de alto nível que aqui tem sabido testemunhar o valor da pedagogia cristã. É legítimo e imperativo interrogarmo-nos: Porque deixam as Irmãs Salesianas a secção feminina da Casa Pia de Évora, no Convento Novo? Segundo informações fidedignas, as Irmãs saem de Évora, porque as instâncias responsáveis da Segurança Social criaram condições insustentáveis à sua actividade. Tudo parece ter obedecido a uma estratégia levada a cabo nos últimos meses. As Irmãs saem convencidas de que houve uma estratégia montada com o objectivo concreto de as afastar. Não havendo a coragem de as demitir por uma decisão administrativa, pretendeu-se criar-lhes um ambiente em que a sua acção e influência se tornassem impossíveis. Desde que um grupo de técnicas lá foi colocado, actuando junto das jovens à margem das Irmãs que dirigem a instituição, o ambiente foi-se alterando e subvertendo. Alertados os responsáveis regionais da Segurança Social, nunca foram tomadas as medidas necessárias para alterar a situação, não obstante as boas palavras que nunca faltaram. Maltratadas, cerceadas na sua capacidade de educar, e de educar segundo os altos valores humanos e cristãos, às Irmãs Salesianas não restava outro caminho que não fosse o de deixar a instituição. Esta acabou por ser a decisão do Conselho da Província Portuguesa, tomada, segundo fomos informados, com o maior sofrimento e tristeza, tendo em conta a forma incorrecta e desleal como todo o processo foi conduzido. Perguntamo-nos: Para onde queremos conduzir a educação da nossa juventude? Porque se transfere de forma abrupta a responsabilidade desta obra uma instituição cristã, como é a Congregação das Irmãs Salesianas, para uma instituição laica? Que forças secretas a determinam? Porque não é respeitado o pluralismo democrático? Será que queremos implementar um sistema educativo que seja cada vez mais monopólio do Estado e onde a componente católica não tenha lugar, apesar de sermos uma sociedade sociologicamente e culturalmente de matriz cristã? Julgamos que não devíamos deixar de escrever estas palavras, por duas razões: primeira, para manifestar às queridas Irmãs Salesianas a nossa gratidão, apreço e mágoa por vê-las partir: segundo, para denunciar o que consideramos ser uma expressão de autoritarismo, e, ao mesmo tempo, um caminho nefasto para a educação das novas gerações. + Maurílio de Gouveia, Arcebispo de Évora

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