Escolas Católicas discutem futuro até dia 3 de Setembro
Adequar os conteúdos pedagógicos aos alunos, no contexto da sociedade actual, e conseguir ser fiel aos princípios pastorais que são a raiz da sua existência, são dois dos principais desafios que as escolas católicas enfrentam, no nosso pais e no mundo.
O seminário sobre “Competências Pedagógicas e Pastorais dos Educadores da Escola Católica”, organizado pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), em Lisboa, e pelo Colégio Rainha Santa Isabel, em Coimbra, começou hoje, 1 de Setembro, a lançar pistas para construir uma nova linha de actuação.
Na sessão de abertura, Acácio Lopes, director no SNEC, referiu que “as competências pedagógicas, pastorais e educacionais de uma escola católica têm todas a mesma missão, de evangelização da Igreja no campo do ensino”.
Perante uma sociedade em permanente mudança, onde tudo é efémero, ao ritmo de uma informação que chega mais longe e mais rápido, junto das crianças e dos jovens, “importa desbravar caminho, para alterar o paradigma da escola católica” sublinha o mesmo responsável.
O director do SNEC pretende que se consiga passar do modelo actual, em que há “uma pastoral na escola, feita de momentos pontuais”, para “uma escola em pastoral, apostada em ser, toda ela, pastoral”.
Isto só se conseguirá, para Acácio Lopes, quando “toda a organização, gestão, desenvolvimento curricular e pedagógico, entre outros pontos, adquirirem e manifestarem significado pastoral”.
Uma renovação que tem de começar ao nível da mudança de mentalidades e de métodos de ensino, por parte dos professores.
Na primeira conferência do dia, dedicada ao tema da “Inovação educativa e metodologia na sala de aula: competências pedagógicas para o século XXI”, Alfredo Hernando defendeu que “não houve, desde há 40 anos, uma evolução nos métodos educativos e pedagógicos dos professores, nas escolas católicas”.
Aquele especialista na área da psicologia educativa é membro da Federação Espanhola dos Religiosos no Ensino, uma organização católica que colaborou com a SNEC na preparação da metodologia do seminário.
“Num mundo em permanente mudança, onde tudo se move, as escolas católicas continuam quietas” aponta Alfredo Hernando, para quem as instituições carecem de talento, confiança, optimismo e inovação.
Para integrar as crianças e jovens na sociedade de hoje, “os conteúdos curriculares não podem ser fechados ao mundo e, hoje em dia, há a possibilidade de criar uma escola muito diferente”, referiu o jovem, perante uma plateia de cerca de 200 professores.
O conhecimento há muito que deixou de estar apenas nos livros, com a multiplicação diária de diversas ferramentas educativas, na Internet. “Também a figura do professor”, diz Alfredo Hernando, “há muito que deixou de ser o Mestre, o dono da sabedoria”.
O segredo do ensino de hoje, concretamente ao nível das escolas católicas, passa por “responsabilizar mais os alunos, dando a eles o protagonismo das aulas, ao contrário do antigamente, em que o professor debitava matéria e o aluno limitava-se a apontar e a escutar”, defende o especialista em psicologia educativa.
Para o orador, as escolas e os professores só conseguiram acompanhar a evolução dos tempos e tornar o ensino atractivo, se conseguirem responder a este desafio.
A segunda conferência do dia, dedicada às “Competências pastorais: um centro educativo aberto à transcendência”, foi dada por Cármen Pellicer, colaboradora da Federação Espanhola dos Religiosos no Ensino e consultora independente que trabalha com diversas escolas católicas, na Europa.
“A missão de evangelizar, nas escolas católicas, deixou de ser exclusiva dos religiosos e religiosas, passou para os leigos, que precisam de reencontrar a sua paixão pelo Evangelho”.
Cármen Pellicer considera que “a Igreja vive hoje uma grande crise, na forma como a fé é transmitida, e isso também é visível nas escolas católicas”.
A consultora defende que todos os agentes educativos da Igreja, sejam padres, religiosos ou leigos, “têm de trabalhar juntos e possuir uma formação teológica, metodológica, pastoral e espiritual intensa e constante”.
Esta dificuldade de aplicar a raiz pastoral, fundamentada em Cristo e na fé cristã, junto dos alunos, “é um problema que afecta não só Portugal mas muitos países do mundo”, diz Cármen Pellicer, apoiada na sua experiência profissional.
Quanto às soluções, a oradora destacou duas chaves que podem servir de base para a mudança. Em primeiro lugar, a pastoral implícita, ou seja, “como é que o terreno é preparado para fazer essa transmissão da fé”, como é que a dimensão espiritual é despertada na criança e no jovem, á medida que vai crescendo. Em segundo lugar, “como é que se pode, hoje, anunciar o Evangelho e convidar ao encontro pessoal com Jesus Cristo, numa sociedade em que isto é cada vez mais complicado”.
A pastoral na escola católica tem de apostar em experiências intensas de Deus, “colmatando um pouco a falta dessa valência nas famílias e nas paróquias”, aponta a consultora.
Outras respostas passam por tentar passar para os alunos o gosto pela leitura da bíblia – para tal, aponta Cármen Pellicer, “os professores têm de ter um conhecimento bíblico muito sólido”; dar a conhecer às crianças e jovens “um mundo muitas vezes feito de dor, onde a realidade do serviço ao próximo tem de existir”, e aqui as escolas católicas devem tentar associar-se a projectos de cariz humanitário, envolvendo os alunos.
O seminário sobre “Competências Pedagógicas e Pastorais dos Educadores da Escola Católica” continua amanhã, dia 2, no Colégio de São João de Brito, em Lisboa, e no Colégio da Rainha Santa Isabel, em Coimbra.