Aprovada no 30.º Conselho Nacional do Movimento Católico de Estudantes
Apresentamos esta moção no momento em que a Educação é chamada à reflexão e discussão, um pouco por toda a parte, na nossa sociedade. Seguimos diariamente uma enormidade de discursos, que se propõem a essa mesma reflexão – a uma revisão do sentido que esta deve tomar no seio do desenvolvimento humano nos seus mais diversos níveis, como por exemplo, o intelectual e o sócio-cultural cultural.
Falar de Educação pressupõe, logo à partida, partir de uma perspectiva que não a reduza ao simples exercício escolar, mas antes a reconsidere como uma dimensão da existência humana, em si multifacetada e de uma grande complexidade. Comecemos por aí. Afinal, como vê a sociedade a nossa Educação? Não a verá como a mera exposição de um conjunto de instrumentos e métodos, numa lógica estandardizada, tal como está definida a escola em Portugal? De facto, preocupa-nos saber que a Educação esteja a caminhar para uma condição claustrofóbica. A escola deve ser entendida como um espaço de promoção do desenvolvimento humano, de integração de valor, de afirmação de fé e, em suma, transformação pessoas. Porém, jamais esta deverá er o resumo da Educação.
1. A missão da Educação
– A Educação deve estar presente em todo o processo de desenvolvimento do indivíduo. Entenda-se pois, o contexto familiar, religioso, sócio-cultural, profissional, entre outros, como espaços promotores de educação e abandone-se, desde já, a ideia demagógica de que a educação é o grosso sinónimo da relação entre professor e aluno.
– Valorizar a Educação obriga-nos a considerar que esta se adianta à simples transmissão de conhecimentos formais; ela é, antes de mais, informalmente formal: deve promover a integração dos valores individuais e ético-sociais no modo de pensar e agir de cada pessoa em desenvolvimento.
2. A família e a educação
– A família, enquanto primeiro agente de socialização vai funcionar como o nosso primeiro contacto com a educação. É nesta que adquirimos os princípios e os valores para a nossa vida e jamais a devemos colocar num segundo plano na educação. Na altura em que falamos em desafios para a educação, torna-se fundamental sublinhar que sobretudo os pais dos nossos jovens cumpram o seu compromisso educativo, tendo um papel mais activo e responsável no percurso dos seus filhos.
3. O papel da escola
– A escola deve ser o motor primordial de desenvolvimento cultural de cada indivíduo, constituindo o espaço privilegiado de transmissão de conhecimentos formais, nunca deixando de ser, paralelamente, um agente de socialização e formação para a cidadania.
– Sendo uma parte integrante no processo, o professor deve alhear-se às práticas educativas que ignorem a reflexão de valores básicos da vida humana. É, portanto, a unidade que promove o sentido de comunidade nos seus alunos, passando a representar mais do que um simples “mestre” que transmite apenas conhecimento.
– Afirmar, conscientemente, a importância da reflexão e integração dos valores na educarão em escola, é também sublinhar que se torna sumariamente fundamental, garantir nas primeiras fases do percurso escolar, que esta seja reconhecida, significativamente, nos sistemas de avaliação do aluno, de forma que este tenha consciência da importância destes valores na sua vida.
– Para além dos desafios já referidos, a educação em escola, deve garantir a construção da personalidade e a preservação dos direitos da individualidade; o ensino é agora um “fenómeno de massas”, e há muito que deixou de promover a personalização de cada indivíduo, sublinhando-se que tal projecto deve isolar-se de qualquer forma de emergência de ambientes competitivos e individualistas. A aposta deve ser sim, no desenvolvimento do espírito crítico e da capacidade de pensar por si, construir ou produzir.
– Fazer Educação remete-nos para o desafio de prolongar cada uma das suas práticas à vida de cada indivíduo: é mais do que um mero conjunto de metodologias, deve ser sim, um espaço de aprofundamento dessas mesmas metodologias no modo de cada um construir o seu projecto de vida.
– Por outro lado, é fundamental pensar sobre tais práticas antes, durante e depois da sua aplicação e abandonar a postura passiva que, fundamentalmente, professores (mas também os alunos) apresentam quando nunca questionam o seu próprio modo de ensinar e desenvolver aprendizagens nos seus alunos.
4. A sociedade, a escola e a Educação
– Esta é a era dos números e das percentagens, das estatísticas. Mais do que isto, preferimos a qualidade do ensino, a garantia de melhores espaços de educação, das melhores práticas e metodologias, do maior e melhor desenvolvimento.
– O futuro da educação passa por exigir de cada um de nós a certeza de que as práticas educativas deixarão de ser instrumentalizadas e de se encontrar ao serviço de interesses alheios, perdendo o seu verdadeiro sentido. É fundamental, com isto, garantir que todo o processo educativo tem, antes de mais, presente o desenvolvimento livre de cada indivíduo, oferecendo-lhe oportunidades, contrariamente ao que tem acontecido: criar-lhe apenas condições.
– A Educação é também um valor. Um valor básico da vida, um direito e um dever que todos recebemos. Por isso, todos devemos ter igualdade no acesso à educação, travando-se a luta pelo fim da marginalização que, muito frequentemente, ainda vemos acontecer nas escolas portuguesas. O valor da igualdade é, por tudo isto, a alternativa a esta realidade; igualdade no acesso à educação, igualdade nas oportunidades de aprendizagem ao longo do desenvolvimento (a organização do espaço escolar não deve discriminar pessoas pelas suas diferenças individuais, mas antes tentar a sua inclusão).
– O espaço escolar passa a caracterizar-se como uma unidade integradora de toda a comunidade educativa: alunos, funcionários docentes e não-docentes, pais e organizações sócio-culturais, alargando assim, o processo de educação a toda a comunidade.
Não poderíamos fechar esta reflexão em torno da educação, sem antes dizer o que habitualmente o Movimento vem dizendo aos seus militantes, mudar a organização da educação está ao alcance de cada um, parte deste já dito fenómeno complexo.