Carlos Almeida, da HELPO, destaca dificuldades nas zonas rurais
Lisboa, 13 mar 2020 (Ecclesia) – O português Carlos Almeida, que coordena a ação da HELPO em Moçambique, disse à ECCLESIA e à Renascença que um ano depois da passagem do ciclone Idai, a situação no país africano é “muito preocupante”.
“As pessoas nestas zonas rurais estão realmente a passar mal, com muitas dificuldades, e vão conseguindo sobreviver, nem digo viver”, referiu, na entrevista semanal conjunta que é emitida e publicada a cada sexta-feira.
Antigo professor, Carlos Almeida está desde 2010 em Moçambique, onde é o coordenador nacional da HELPO, uma organização não-governamental para o desenvolvimento (ONGD).
“Para quem conhece Moçambique e os moçambicanos, as pessoas em primeiro lugar estão muito felizes por estarem vivas e continuam com um sorriso nos lábios e a enfrentar o dia-a-dia sempre com uma enorme capacidade de resiliência. Teríamos muito a aprender se conseguíssemos interiorizar aquela força que os faz ser assim”, observa.
O responsável adverte, no entanto, que “as pessoas estão realmente a passar muito mal”.
“Neste momento as coisas não estão muito boas, e prevê-se que o ano 2020 seja um ano muito complicado”, acrescenta.
Com vários parceiros no terreno a HELPO está a promover o projeto Reconstrução e resiliência nas estruturas de saúde e população pós-Idai” na região do Dombe, elogiando o papel que a Igreja Católica desempenha no terreno.
A ONGD portuguesa nasceu em 2008, com o objetivo de apadrinhar crianças à distância; dedica-se sobretudo às áreas da educação e nutrição infantil, mas a tragédia de 2019 levou-a a criar uma Missão de Emergência em Dombe, na província de Manica.
“Passado praticamente um ano, falamos com essas mesmas pessoas que nos dizem que as crianças ainda acordam durante a noite a chorar e a dizer que querem ajuda. Há muitos traumas que não se vão apagar de um dia para o outro”, aponta Carlos Almeida.
Uma das histórias mais marcantes, evocadas na entrevista, foi a de uma mulher grávida que com outros dois filhos subiu a um celeiro que depois se desprendeu e serviu de jangada, durante duas noites.
“As crianças continuam impecáveis, ela com um sorriso e muito feliz por estar viva”, relata.
Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)