Moçambique: Travar o «regresso à guerra»

Conferência Episcopal pede fim do derramamento de «sangue inocente» e apela ao entendimento entre forças políticas

Lisboa, 08 nov 2013 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) alertou para as consequências do regresso à guerra no país lusófono e pediu o fim do derramamento de “sangue inocente” em nome do povo.

“Neste momento de dor, angústia e desespero do povo moçambicano causado pelo regresso à guerra no país, queremos unir a nossa voz a voz do povo que clama pela paz e respeito da sua vida”, assinalam os bispos católicos, numa nota divulgada hoje pelo Vaticano após a reunião plenária do organismo episcopal.

A CEM deixa um apelo particular à comunidade internacional, a começar pelas representações diplomáticas em Moçambique, e às empresas envolvidas no desenvolvimento do país para que favoreçam “a construção da paz, sem a qual, as conquistas destes últimos anos estariam postas em perigo”.

O documento recupera os alertas deixados a respeito do “clima de intolerância e a falta de inclusão de todos os cidadãos” que deixaram numa nota pastoral, em agosto de 2012.

“Moçambique encontra-se hoje numa situação em que a paz está a ser espezinhada. Os acontecimentos das últimas semanas revelam que se optou por resolver as divergências pelas armas”, escreve a CEM.

A Renamo, maior partido da oposição, acusa o Governo da Frelimo de quebrar o acordo de paz assinado em 1992, em Roma, o qual colocou um ponto final na guerra civil que provocou quase um milhão de mortos, cerca de dois milhões de refugiados e quatro milhões de deslocados internos.

“Voltamos a ver as tristes imagens de mulheres e crianças a abandonarem as suas casas e refugiar-se no mato; povo a sofrer porque vítima de abusos e desmandos ligados ao clima de insegurança e agressividade que todo conflito acarreta”, denunciam os bispos católicos em Moçambique.

Segundo a CEM, “ninguém pode invocar o povo ou encontrar nele legitimidade para defender pelas armas interesses de grupos ou pessoais”.

Nesse sentido, os responsáveis exigem o fim imediato de qualquer “forma de hostilidade” e dos confrontos armados para que se “reabra o caminho do diálogo”.

Os prelados dirigem-se ao presidente da República, para que faça “tudo quanto está ao seu alcance para parar com os confrontos armados e crie condições reais para um diálogo corajoso e concludente”.

“Como bispos e como cidadãos, reiteramos a nossa inteira disponibilidade em fazer tudo o que as partes diretamente envolvidas no conflito acharem legítimo e necessário solicitar-nos para que a paz prevaleça e seja consolidada”, conclui o documento assinado por D. Lúcio Andrice Muandula, presidente da CEM.

Afonso Dhlakama, líder da Renamo, não é visto em público há cerca de duas semanas, depois de ter fugido para local incerto do acampamento onde vivia há mais de um ano, na Serra da Gorongosa, centro do país, na sequência de uma ofensiva do exército contra antigos guerrilheiros do movimento na região.

OC

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