Moçambique: Missionário denuncia guerra e alerta para «capelas e casas queimadas» em Cabo Delgado

«Muitos cristãos estão a sofrer. Denunciamos esta guerra e pedimos intervenção» – Padre Kwiriwi Fonseca

Foto: Fundação AIS (arquivo)

Pemba, Moçambique, 06 mai 2025 (Ecclesia) – O padre Kwiriwi Fonseca, da Diocese de Pemba, alertou para a crise que se vive na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, na sequência dos “contínuos ataques terroristas”, e da dificuldade de a Igreja ajudar as pessoas.

“Os ataques indicam que muitos cristãos estão a sofrer, algumas capelas também são queimadas, as suas casas queimadas, os projetos sociais não funcionam, o povo continua no desespero. Estamos aqui não somente pedindo o vosso apoio, mas também as vossas orações, a vossa intervenção, para que o povo tenha a paz”, disse o padre Kwiriwi Fonseca, em mensagem para o secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), enviada à Agência ECCLESIA.

O missionário passionista alerta que “só com as mãos da diocese” não é possível ultrapassar a “miséria em Cabo Delgado”, que depende de recursos que vêm de fora para a Cáritas, tanto a diocese moçambicana, como a Cáritas precisam de “ajuda para que o povo tenha o que comer, onde se esconder”.

“Nós não queremos a guerra, nós queremos a paz, nós queremos a paz… O povo continua a sofrer. A Diocese de Pemba, através da Cáritas, tem feito um trabalho forte, e nós queremos agora denunciar a questão da relativização da guerra. O terrorismo continua, e denunciamos esta guerra, porque ela não pode continuar a castigar o povo, nenhum povo.”

Foto: Fundação AIS; Padre Kwiriwi Fonseca

A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre informa que os grupos terroristas estão também nas províncias de Niassa e Nampula, onde se registaram ataques, no extremo norte também de Moçambique, com ataque a aldeias e a decapitação de pelo menos duas pessoas, assim como na província de Nampula, um alastrar da violência para fora dos limites de Cabo Delgado.

“Nos últimos dias, tem havido ataques na região de Ancuabe, e movimentação da região centro para a região norte”, o que está a provocar “um aparato militar para se poder escoltar as pessoas”, acrescentou o padre Kwiriwi Fonseca.

O mais recente relatório do ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, contabiliza “a deslocação de quase 15 mil pessoas, até ao dia 16 de Abril”, a maioria dos novos deslocados é das aldeias de Nkole, Nonia, Muela, Ngura e Miegane.

“Todos os deslocados internos recém-chegados mencionaram ter fugido na sequência de um ataque armado direto à sua aldeia: envolveram pilhagens, incêndios de casas, raptos e assassinatos seletivos”, lê-se ainda no documento da organização das Nações Unidas, citado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.

A irmã Aparecida Queiroz, missionária brasileira da Congregação das Filhas de Jesus, está há sete anos em Pemba, e, numa mensagem recente à AIS, onde agradeceu o seu apoio e dos benfeitores, lamentou os “milhares de irmãs e irmãos em Cabo Delgado que estão a viver essa dor, pessoas que perderam tudo, casa, membros da família, lugar de oração, identidade, e que tiveram que fugir não só uma vez, mas muitas vezes”

A fundação pontifícia acrescenta que na província moçambicana de Cabo Delgado a Igreja Católica é “muitas vezes a única mão amiga para as populações locais” e são “milhares de pessoas que precisam de ajuda urgente”, no território da Diocese de Pemba a atuação dos grupos terroristas conjuga-se com as “consequências desastrosas” de fenómenos naturais, como o Ciclone Chido, em dezembro de 2024, que “arrasou mais de 100 mil casas”.

O secretariado português da AIS recorda que os grupos terroristas, afirmam a sua ligação à organização jihadista Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico, já provocaram mais de 1 milhão de deslocados e mais de cinco mil mortos, desde outubro de 2017, quando começaram os primeiros ataques.

CB/OC

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