Fátima Castro conta a história de quando insurgentes cercaram aldeia, em fevereiro, num local onde está situada uma das missões da Igreja Católica, na província de Cabo Delgado
Lisboa, 04 out 2024 (Ecclesia) – Fátima Castro, uma jovem missionária de Braga, está desde 2021 em missão em Moçambique e lembra o ataque terrorista em Ocua, em fevereiro, numa das zonas atingidas pela violência terrorista ao longo de sete anos de conflito.
“Eram dez horas, numa manhã quente. O enfermeiro Ofélio, do Posto de Saúde, diz-nos para fugirmos porque ‘eles estavam a chegar’. Todos sabíamos quem ‘eles’ eram. Nos últimos dias escutávamos os seus movimentos e percebíamos que um grupo de insurgentes estava cada vez mais perto de Mahipa, aldeia onde se situa a sede da missão”, recorda a leiga, num depoimento enviado à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e publicado hoje.
Fátima Castro descreve que os atacantes “cercaram a aldeia, vindos de vários sítios e, tal como em 2022, voltaram a queimar capelas, um camião, extorquiram dinheiro, decapitaram pessoas”.
“Os dias seguintes foram de silêncio e dor”, expressa.
Há três anos que a jovem missionária está em Moçambique, ao abrigo de um projeto de cooperação entre a Arquidiocese de Braga e a Diocese de Pemba, e encontra-se em Ocua, na Paróquia de Santa Cecília, constituída por 98 comunidades.
Num testemunho, a propósito dos primeiros ataques na província moçambicana de Cabo Delgado, em 2017, Fátima Castro conta que esta não foi a primeira vez esteve numa zona ameaçada.
“Em 2022 já havia testemunhado o terror deixado aquando da sua passagem em algumas das nossas aldeias mais distantes da sede da paróquia. Numa outra ocasião, num troço de caminho para Pemba – ladeado por matas – fomos abordados por alguns elementos deste grupo, mas, por graça divina, não nos fizeram mal”, explica.
Já em fevereiro deste ano, perante os rumores crescentes da presença de terroristas, e por precaução, os missionários abandonaram a região.
“Essa era a regra”, refere a missionária, que acrescenta que grupo fez-se à estrada rumo à cidade de Pemba e foi acolhido no Paço Episcopal.
“Mas sentimos que aquele não era o nosso lugar, precisávamos de estar perto do nosso povo e, após autorização do bispo, seguimos caminho”, revela.
Após seis dias, Fátima Castro conta que o grupo de missionários saiu cedo do local, tendo pela frente três horas de estrada e uma incerteza do que iria encontrar.
“O silêncio foi maior do que as palavras. Quando chegamos ao mítico sinal onde diz ‘Missão de Ocua’ o coração acelerou! Ao fundo, os enormes carros e os militares, toldavam a vista para a Igreja. Impossível de os contabilizar”, refere.
A presença dos soldados era sinal de que já não havia terroristas por ali, levando o grupo a seguir, uma hora depois, para Namapa, a vila que acolheu a maioria daquele povo e aos missionários quase três meses.
Mais de cinco mil pessoas já morreram e estima-se que haverá cerca de 1 milhão de deslocados desde que o conflito estalou a 5 de outubro de 2017, em Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado, em Moçambique, informa a FAIS.
A fundação pontifícia assinalou os sete anos do início dos ataques com a publicação de memórias de vários sacerdotes, religiosas e da missionária Fátima Castro.
LJ