Publicação «Missão em África: Lançar Sementes, Colher Sorrisos» foi apresentada no Seminário de Gouveia, na Guarda
Guarda, 30 abr 2019 (Ecclesia) – O padre Carlos Jacob, autor do livro ‘Missão em África: Lançar Sementes, Colher Sorrisos’, que tem como objetivo apoiar Moçambique, considera fundamental criar uma cultura de “proximidade” com as nações mais carenciadas.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o sacerdote português aborda 13 anos de trabalho naquele país lusófono, integrado nos Missionários de São João Batista, os projetos que a congregação tem naquele país e, e destaca a urgência de uma ajuda que vá para lá dos momentos mais mediáticos, como o da destruição provocada pelo ciclone IDAI.
Numa sociedade onde existem “diferenças gritantes entre o hemisfério norte e o hemisfério sul”, é essencial reforçar uma ideia de “aldeia global onde as pessoas, apesar de não se conhecerem pelo nome, comungam sentimentos, ideias, e criam pontes de solidariedade”, sublinha aquele responsável.
Moçambique surge como exemplo de uma nação a necessitar dessa “colaboração”, mas o padre Carlos Jacob frisa que o período difícil por que passa “não é só de hoje”.
“Se nós olharmos até para o historial, damo-nos conta dos muitos ciclones, das muitas cheias, dos terramotos, de várias vicissitudes climáticas que fizeram com que aquele povo ficasse na pobreza absoluta”, aponta o missionário, que recorda os números mais recentes lançados pelo governo moçambicano.
Uma estatística que coloca pelo menos 60 por cento da população de Moçambique no limiar da pobreza.
“São dados de facto reveladores e por isso julgo que nós neste canto devemos cultivar esta proximidade”, sustenta o padre Carlos Jacob.
Há cerca de um mês, a passagem do ciclone IDAI por Moçambique provocou mais de 600 mortos, pelo menos 70 mil desalojados e deixou 350 mil pessoas em risco de vida eminente.
Mais recentemente outro fenómeno natural, o furacão Kenneth, voltou a trazer a morte e a destruição àquele território, com várias vítimas a registar.
“É bom realmente ter esta noção de que qualquer ajuda faz milagres, os gestos que nós semearmos depois multiplicam-se”, realça o padre Carlos Jacob, que acaba de publicar o livro ‘Missão em África: Lançar Sementes, Colher Sorrisos’.
Um projeto que pretende contribuir para esse esforço de apoio a Moçambique, contando com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos, e onde o sacerdote relata, em forma de testemunho, e com vários interlocutores, alguns dos episódios mais marcantes que viveu durante os 13 anos em passou naquele país.
Para o padre Carlos Jacob, além de alertar para a “grave crise” que Moçambique atravessa, esta publicação pretende fazer memória “de todos os protagonistas da missão” e funcionar como “um arco-íris de esperança” para os missionários e para os povos que eles servem, “porque a vida é Missão”.
Agora em Portugal, como responsável pela orientação do Seminário dos Missionários de São João Batista em Gouveia, na Diocese da Guarda, e pela coordenação dos projetos em Moçambique, o padre Carlos Jacob destaca a relação de afetividade que criou com o povo moçambicano.
“Há muitas experiências, porque realmente nós somos marcados por rostos, por emoções, por afetos, por encontros com pessoas, e esses encontros deixam-nos saudade”, refere o sacerdote, que reforça a linha que sempre orientou o trabalho da congregação dos Missionários de São João Batista, estar junto “daqueles que mais precisavam”.
“Foi sempre esse o meu trabalho, mais do que construir escolas, igrejas, hospitais ou outras infraestruturas, para mim o mais importante foram sempre as pessoas e continua a ser isso”, complementa.
Atualmente, o trabalho dos Missionários de São João Batista em Moçambique assenta sobretudo em três grandes áreas: evangelização, saúde e educação.
Sobre o primeiro ponto, o padre Carlos Jacob recorda que o drama da guerra civil, que teve também custos enormes para a Igreja Católica, nomeadamente a perda de muitos sacerdotes e agentes pastorais.
“Por isso nós apostámos muito na formação dos leigos, que têm desempenhado um papel de evangelização muito grande”, indica aquele responsável.
Sobre o setor da Saúde, sobressai o projeto do Hospital Geral do Marrere, gerido pelos missionários, que conta com 150 camas para internamento e onde são diagnosticados por dia cerca de 350 doentes.
“É um hospital que nós ajudamos não só na gestão, na procura de recursos humanos, mas também alimentamos os doentes”, adianta o padre Carlos Jacob, sobre um trabalho que conta com o apoio de várias organizações.
Como a Fundação Teresa Regojo para o Desenvolvimento, a Associação Portuguesa dos Amigos de Raoul Follereau, e a organização não-governamental HELPO.
Quanto à questão da educação, o sacerdote destaca a importância deste setor para o futuro do país.
“É preciso dotar os jovens, as crianças, de ferramentas para que o progresso de Moçambique exista, e se possa inverter este ciclo de morte, de miséria, de corrupção, de pobreza e de injustiças”.
Neste momento a Escola da Missão, em Nampula, tem 1200 alunos e no horizonte está a intenção de construir mais salas e alargar a oferta, mas para isso são necessários “recursos económicos”.
O padre Carlos Jacob aproveita para deixar um repto a todas as pessoas, para que se associem a esta causa de alavancar o desenvolvimento de Moçambique e de outros países necessitados
“Felizmente em Portugal passaram imensas iniciativas, que têm dado muitos resultados”, enaltece o sacerdote.
JCP