Atos são atribuídos a grupo extremista ligado ao Estado Islâmico
Cabo Delgado, Moçambique, 05 nov 2020 (Ecclesia) – O jornal do Vaticano denuncia na sua última edição o “terror” que se vive em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, onde pelo menos vinte corpos decapitados, de cinco adultos e quinze adolescentes, foram encontrados esta segunda-feira nas florestas do distrito de Muidumbe.
Segundo ‘Osservator Romano’, as incursões dos últimos dias nas aldeias de Magaia, Nchinga, Namacunde, 24 de Março, Muatide e Muambula, no distrito de Muidumbe seriam “uma resposta à operação das forças de defesa e segurança realizada no início da última passada contra a principal base terrorista”, conhecida como “Base Síria”, localizada no distrito de Mocímboa da Praia.
O ato de violência foi alegadamente perpetrado por pistoleiros pertencentes ao grupo extremista filiado à “Província Centro-Africana do autodenominado Estado Islâmico” (Iscap), presente no norte de Moçambique há pelo menos três anos, com o objetivo de estabelecer um califado.
Estima-se que entre 350 e 400 mil pessoas estão deslocadas nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa, de acordo com dados preliminares da Organização Internacional para as Migrações.
“Números impressionantes que ajudam a compreender a tragédia vivida pela população de Cabo Delgado nos últimos meses”, indica o jornal do Vaticano.
D. Luiz Fernando Lisboa, bispo da Diocese de Pemba, no norte de Moçambique, fala numa região que “há cerca de três anos que está a ser sacrificada por uma guerra que tomou proporções absurdas”.
O responsável participou, este domingo, na iniciativa ‘Diálogos com António 2020’, através de videoconferência, promovida na cidade de Coimbra.
O bispo de Pemba sublinhou que este conflito “já provocou mais de 400 mil deslocados” e “atingiu mais de um milhão de pessoas”.
No último mês, a guerra “intensificou-se” e vive-se uma “situação dramática”, assinalou D. Luiz Fernando Lisboa.
Segundo o responsável católico, a Igreja “nunca pode ficar calada” perante estes casos porque seria “um grave pecado de omissão”.
Em 2019, aquela região moçambicana foi uma das que mais sofreu os efeitos do ciclone Keneth que destruiu casas e plantações e afetou quase três centenas de milhar de pessoas.
A Cáritas Portuguesa continua a trabalhar localmente “no apoio a 970 famílias que, depois de estarem nos campos de refugiados criados nas áreas seguras da província, receberam do governo local um pedaço de terra para fazerem as suas casas e poderem cultivar a terra”, revela um comunicado da Cáritas Portuguesa enviado à Agência ECCLESIA.
“Esta é a única ajuda que tiveram para começar uma nova vida depois de meses de medo, cansaço e desesperança”, lê-se
A pandemia de Covid-19 que “tem dificultado o trabalho de ajuda humanitária” em Cabo Delgado.
Para poder dar continuidade e levar o seu apoio a mais famílias, a Cáritas Portuguesa, juntamente com a Cáritas Espanhola, inicia um “novo ciclo de trabalho” em parceria com a Cáritas Diocesana de Pemba.
Este apoio passa pela “distribuição de alimentos às famílias afetadas pelo conflito no norte de Moçambique nos distritos de Ancuabe, Chiure e Namuno; distribuição de sementes e ferramentas para que os deslocados internos possam retomar o plantio de alimentos; distribuição de materiais de costura e carpintaria para famílias que já exerciam este ofício nos bairros de origem”, sublinha o comunicado da Cáritas.
A Cáritas Portuguesa está a promover também “apoio psicossocial às vítimas dos conflitos armados”.
LFS/OC