Crise política e militar ameaça acordos de paz com mais de 20 anos
Lisboa, 22 out 2013 (Ecclesia) – A crise política e militar que se vive em Moçambique está a ser seguida com preocupação pelos responsáveis católicos no país lusófonos, após o exército moçambicano ter desalojado o líder da Renamo, principal partido da oposição, Afonso Dhlakama.
A representante em Moçambique da Comunidade de Santo Egídio, que mediou as negociações para a assinatura do Acordo Geral de Paz (1992), disse hoje à Agência ECCLESIA que o país já assiste há alguns meses a um “regresso à violência”, deixando votos de que se evite “algo pior”.
“Estamos muito preocupados, porque perder uma oportunidade como esta de ter tido mais de 20 anos de paz é perigoso, vai custar caro às pessoas, vai ser uma grande perda”, declarou Maria Chiara Turrini.
Segundo esta responsável, “ainda há espaço” para que os responsáveis políticos no país se possam sentar para “dialogar”.
“Penso que eles têm a capacidade de ultrapassar este momento de tensão, de dificuldades, que existe, não se pode negar”, conclui a representante da Comunidade de Santo Egídio.
Em declarações à Lusa, o porta-voz da Conferência Episcopal de Moçambique, D. João Carlos Nunes, disse que a comunidade católica acompanha com “bastante tristeza” os últimos desenvolvimentos no país, apelando a Afonso Dhlakama e ao chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, para se reunirem, “por forma a devolver a esperança ao povo pela via do diálogo”.
A Renamo acusa o Governo da Frelimo de quebrar o acordo de paz assinado em 1992, em Roma, o qual colocou um ponto final na guerra civil que provocou quase um milhão de mortos, cerca de dois milhões de refugiados e quatro milhões de deslocados internos.
Fontes citadas pela Agência Fides, do Vaticano, falam num “período delicado”, em vésperas de eleições administrativas (autárquicas), às quais não concorre a Renamo, mas deixam esperança em possíveis “espaços de mediação” para o conflito.
OC